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Da Torre de Babel às terras prometidas - Repositório Aberto da ...

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arbitrária e metafísica e que explora o mítico, o ritualista e o emocional" (Wilson,<br />

Ibi<strong>de</strong>m. 3). Mas precisamente porque a religião <strong>de</strong>teve uma importância inigualável<br />

em termos <strong>de</strong> organização social e <strong>da</strong>s consciências individuais em fases históricas<br />

pré-científicas, ela terá necessariamente <strong>de</strong> assumir hoje um lugar central entre os<br />

<strong>de</strong>safios que se colocam à investigação sociológica.<br />

Marx tinha em comum com Comte o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> uma análise científica <strong>da</strong><br />

socie<strong>da</strong><strong>de</strong> e uma certa animosi<strong>da</strong><strong>de</strong> em relação à religião. Para Marx - autor que<br />

discute a religião <strong>de</strong> um modo fragmentado ao longo <strong>da</strong> sua obra -, a religião seria<br />

<strong>de</strong>signa<strong>da</strong> pela máxima <strong>de</strong> "o ópio do povo", uma falsa consciência, uma<br />

mistificação <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> e uma instituição <strong>de</strong> controlo social.<br />

O contributo mais significativo <strong>de</strong> Marx para a sociologia <strong>da</strong>s Religiões diz<br />

respeito à sua crítica política e filosófica <strong>da</strong> religião. Em Marx, a religião surge como<br />

o "ópio do povo" numa acepção alusiva a opressão, logo alienação <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

num processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconsciencialização do homem em relação ao mundo em que se<br />

insere. O autor enquadra a religião como uma pretensão <strong>de</strong> salvação ou auxílio, por<br />

parte do indivíduo, para superar as crises <strong>da</strong> sua vivência. Contrariamente, Marx<br />

(1993: 78) <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que o alcance <strong>de</strong> uma felici<strong>da</strong><strong>de</strong> real, passa por uma necessária<br />

abolição <strong>da</strong> religião, répercutera <strong>de</strong> um estado ilusório <strong>de</strong> felici<strong>da</strong><strong>de</strong>, inibidora do<br />

processo <strong>de</strong> assunção i<strong>de</strong>ntitária do indivíduo 9 . Embora reconheçamos que esta<br />

análise sócio-histórica dos efeitos políticos <strong>da</strong> religião é <strong>de</strong> to<strong>da</strong> a utili<strong>da</strong><strong>de</strong> científica,<br />

ela não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser redutora porque coloca sempre a religião ao serviço <strong>de</strong> po<strong>de</strong>res<br />

estabelecidos e legitimadora dos mesmos, ignorando a vertente <strong>de</strong> protesto que<br />

também está presente ao longo <strong>da</strong> história do cristianismo.<br />

A crítica que Marx teceu à religião, ao longo <strong>da</strong> sua vi<strong>da</strong>, foi centra<strong>da</strong> nas "funções<br />

<strong>da</strong> religião, especialmente como i<strong>de</strong>ologia <strong>de</strong> Estado" (Turner, 1997: 63-64). Ao<br />

consi<strong>de</strong>rar a religião como uma reali<strong>da</strong><strong>de</strong> superestrutural, Marx não enten<strong>de</strong>u o<br />

religioso como um "sistema simbólico autónomo", postura aliás semelhante<br />

9 Corroborando esta perspectiva, Marx, na sua Crítica <strong>da</strong> dialéctica e <strong>da</strong> filosofia <strong>de</strong> Hegel, alega que:<br />

"[a] minha própria i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong>, a autoconsciência que é a sua essência, não a vejo confirma<strong>da</strong> na<br />

religião, mas na abolição e na superação <strong>da</strong> religião" {Ibi<strong>de</strong>m. 254).<br />

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