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Da Torre de Babel às terras prometidas - Repositório Aberto da ...

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ecuperação passa pelo recurso a meios que envolvem um tipo <strong>de</strong> persuasão<br />

psíquica violenta, que alguns sociólogos <strong>da</strong> religião <strong>de</strong>signam, <strong>de</strong> igual modo, <strong>de</strong><br />

"lavagem ao cérebro" (Barker, 1995: 17-22 e 101-109) 35 e que po<strong>de</strong> implicar o<br />

sequestro <strong>da</strong>queles que as organizações anti-seita procuram "libertar" dos NMRs.<br />

Num segundo aspecto, os termos "violação psíquica" e semelhantes<br />

são tão imprecisos e vagos que nos po<strong>de</strong>mos interrogar se caberá ao jurista<br />

<strong>de</strong>cidir quando uma conversão é autêntica ou não. O que dizer então do<br />

protestantismo com um pendor mais evangelístico ou <strong>da</strong> a<strong>de</strong>são <strong>de</strong> protestantes<br />

ao catolicismo ou ao ju<strong>da</strong>ísmo (e vice-versa) sob a influência <strong>de</strong> amigos? Neste<br />

caso, se se avançar com legislação nesta área, ficam sob ameaça tanto as<br />

religiões tradicionais como os grupos religiosos mais recentes.<br />

No centro <strong>da</strong> construção social do problema <strong>da</strong>s seitas estão, segundo<br />

Françoise Champion e Martine Cohen (1999: 14), os movimentos anti-seita ou<br />

anti-culto. Os media são consi<strong>de</strong>rados por aquelas autoras como os segundos<br />

responsáveis pela construção social <strong>de</strong>sse problema. Roland Campiche (1999:<br />

290-299), no seu estudo sobre o suicídio colectivo dos a<strong>de</strong>ptos <strong>da</strong> Or<strong>de</strong>m do<br />

Templo Solar 36 , mostra como os meios <strong>de</strong> comunicação já tinham a notícia<br />

escrita. Aquilo que apareceu em <strong>de</strong>staque foi, ao nível individual, o<br />

"comportamento anormal" e a submissão ao guru e, no plano colectivo, a ligação<br />

do fenómeno ao mundo do crime (branqueamento <strong>de</strong> dinheiro, tráfico <strong>de</strong> armas<br />

ou <strong>de</strong> influências, violência). Como em muitos outros casos, o interesse dos<br />

jornalistas foi o <strong>de</strong> dramatizar os acontecimentos à maneira <strong>de</strong> "folhetim policial"<br />

(Champion e Cohen, Ibi<strong>de</strong>m. 14). A crença, os i<strong>de</strong>ais, o sentido que os membros<br />

<strong>da</strong>quele grupo atribuíam à sua acção foram aspectos totalmente secun<strong>da</strong>rizados<br />

ou mesmo ignorados. Isso é revelador, para além <strong>da</strong> falta <strong>de</strong> objectivi<strong>da</strong><strong>de</strong> e<br />

35 Ver ain<strong>da</strong> as questões éticas levanta<strong>da</strong>s por Richardson (1996: 85-97) em relação <strong>às</strong> acusações<br />

<strong>de</strong> lavagem ao cérebro feitas pelos movimentos anti-culto.<br />

36 A Or<strong>de</strong>m do Templo Solar surgiu na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> setenta e <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> tradição ocultista e<br />

neotemplária <strong>de</strong> língua francesa, combinando essa herança com elementos mais específicos do<br />

New Age (Introvgne, 1999: 308-309), como a homeopatia e a ecologia. O movimento adquiriu<br />

visibili<strong>da</strong><strong>de</strong> a partir do suicídio colectivo <strong>de</strong> cinquenta e três membros em Outubro <strong>de</strong> 1994, na<br />

Suíça e no Canadá. O inci<strong>de</strong>nte repetiu-se em França, em Dezembro <strong>de</strong> 1995, com o suicídio <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>zasseis pessoas e, <strong>de</strong> novo, no Canadá, em Março <strong>de</strong> 1997, on<strong>de</strong> se suici<strong>da</strong>ram mais cinco<br />

membros {Ibi<strong>de</strong>m: 300).<br />

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