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Da Torre de Babel às terras prometidas - Repositório Aberto da ...

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Os direitos alcançados na esfera religiosa inserem-se, como se viu,<br />

num quadro mais vasto <strong>de</strong> direitos que, entre outros aspectos, o liberalismo<br />

económico e a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> consumo vieram corroborar. O direito <strong>de</strong> escolha<br />

numa acepção ampla foi legitimado: a escolha por um estilo <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>, uma<br />

profissão, pelo cálculo racional <strong>de</strong> filhos, pelos afectos como base matrimonial,<br />

por uma <strong>de</strong>termina<strong>da</strong> concepção filosófica <strong>de</strong> existência ou por uma religião. A<br />

diferença entre uma situação pluralista, domina<strong>da</strong> por grupos religiosos<br />

corporativos, e uma socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> consumo é que na primeira é a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

religiosa que usufrui <strong>de</strong> direitos, enquanto na socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> consumo é o<br />

indivíduo. O processo <strong>de</strong> privatização <strong>da</strong> religião só é possível, e isso representa<br />

mais uma <strong>da</strong>s singulari<strong>da</strong><strong>de</strong>s do oci<strong>de</strong>nte, porque a tolerância foi alarga<strong>da</strong> à<br />

liber<strong>da</strong><strong>de</strong> religiosa individual {Ibi<strong>de</strong>m. 22). Em termos mais globais, esse<br />

processo encontra-se ain<strong>da</strong>, segundo Luckmann {Ibi<strong>de</strong>m. 253-256) 48 , associado a<br />

duas componentes <strong>da</strong> mo<strong>de</strong>rni<strong>da</strong><strong>de</strong>: a primeira situa<strong>da</strong> na longa duração <strong>da</strong><br />

especialização funcional dos domínios institucionais, a outra, o pluralismo na sua<br />

dimensão mo<strong>de</strong>rna.<br />

A perspectiva <strong>de</strong> que historicamente se tem vindo a <strong>de</strong>senvolver, no<br />

oci<strong>de</strong>nte, um processo <strong>de</strong> privatização em paralelo com a pluralização tem sido,<br />

to<strong>da</strong>via, na maioria dos casos, objecto <strong>de</strong> uma análise pouco acautela<strong>da</strong> por<br />

parte <strong>da</strong>s ciências sociais. Em particular, cientistas políticos têm usado, como já<br />

dissemos, o termo pluralismo <strong>de</strong> acordo com os seus propósitos i<strong>de</strong>ológicos<br />

(Beckford, 1999). A i<strong>de</strong>ia base é <strong>de</strong> cariz liberal e advoga que o bem-estar <strong>da</strong><br />

socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>da</strong> existência <strong>de</strong> uma plurali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> grupos <strong>de</strong> interesse,<br />

classes sociais ou religiões em competição. O problema que esta abor<strong>da</strong>gem<br />

levanta é que ignora o facto <strong>de</strong> as <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r ou prestígio não<br />

viabilizarem a competição.<br />

Isto também se aplica ao mercado religioso. Como já houve<br />

oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ilustrar, mesmo nas socie<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>mocráticas dos tempos<br />

actuais po<strong>de</strong>m ser i<strong>de</strong>ntificados casos <strong>de</strong> relações <strong>de</strong> marginalização ou<br />

subordinação <strong>de</strong> grupos religiosos. Dentro do campo social (a situação ultrapassa<br />

48 Esta perspectiva é <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong> por Thomas Luckmann e Peter Berger (1995) em Mo<strong>de</strong>rnity,<br />

Pluralism, and the Crisis of Meaning. Giitersloh.<br />

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