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Controlando o poder de matar - Núcleo de Estudos da Violência

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socioculturais <strong>de</strong> jurados e operadores técnicos do Júri, bem como suas conseqüências<br />

quanto ao acesso e à distribuição <strong>da</strong> justiça.<br />

Enfim, uma primeira constatação a que cheguei foi a <strong>de</strong> que, ao menos para fazer<br />

do texto final <strong>de</strong>sta tese uma Antropologia a ser compartilha<strong>da</strong> com outros antropólogos,<br />

sociólogos, profissionais do Direito e leigos interessados pelo tema, eu teria <strong>de</strong> enfrentar<br />

um <strong>de</strong>safio: manter um certo “di<strong>da</strong>tismo antropológico” — familiarizando colegas do<br />

Direito e leigos em Antropologia com certos conceitos e análises relativos a jogos, rituais<br />

e dramas — e, ao mesmo tempo, um certo “di<strong>da</strong>tismo jurídico” — familiarizando colegas<br />

antropólogos e leigos em Direito com alguns <strong>de</strong>talhes técnicos e doutrinários do Júri.<br />

Busquei fazer isso e ain<strong>da</strong> justificar a Antropologia como a via mais a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong> para<br />

pensar o sistema <strong>de</strong> valores que dá vi<strong>da</strong> e é alimentado pelo jogo, pelo ritual, pelo drama<br />

e pelo texto dos julgamentos do Júri.<br />

Tendo esse conjunto <strong>de</strong> <strong>de</strong>safios em mente, nos capítulos 1 e 2, está em questão<br />

que tipo <strong>de</strong> jogo é o do Júri: sua lógica, seus elementos, características do espaço e<br />

tempo em que se <strong>de</strong>senvolve e <strong>de</strong> interações entre jogadores. Ao contrário do que se<br />

costuma comentar, a pesquisa realiza<strong>da</strong> <strong>de</strong>monstrou que não somente promotores e<br />

<strong>de</strong>fensores jogam para persuadir jurados. Esses últimos, juízes, assistentes e o próprio<br />

réu também se valem <strong>de</strong> uma linguagem persuasiva, não apenas verbal, caracterizando,<br />

assim, o jogo do Júri como um sistema <strong>de</strong> persuasões.<br />

No capítulo 3, está em discussão o caráter ritual do Júri: os plenários enquanto<br />

espaços simbólicos privilegiados para a percepção, produção e reprodução <strong>de</strong> valores em<br />

torno <strong>da</strong> legitimi<strong>da</strong><strong>de</strong> ou ilegitimi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> se <strong>matar</strong> na ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo. Tais valores,<br />

normalmente inconscientes, reelaboram-se e emergem articulados nas situações <strong>de</strong><br />

julgamento.<br />

O <strong>de</strong>bate em torno <strong>da</strong> teatrali<strong>da</strong><strong>de</strong> do e no Júri é objeto do capítulo 4. Nele está<br />

aponta<strong>da</strong> a estreita relação entre a arte do governo e a <strong>da</strong> cena. Mas, assim como nos<br />

capítulos anteriores, a retoma<strong>da</strong> genérica <strong>de</strong> conceitos como teatrocracia, <strong>po<strong>de</strong>r</strong> e drama,<br />

serve apenas <strong>de</strong> base para a interpretação <strong>de</strong> passagens <strong>de</strong> julgamentos em que os<br />

vários “atores” evi<strong>de</strong>nciam uma luta pela conquista e/ou manutenção do uso legítimo do<br />

<strong>po<strong>de</strong>r</strong> <strong>de</strong> <strong>matar</strong>.<br />

No capítulo 5, o Júri é reapresentado como um texto imaginativo — pleno <strong>de</strong><br />

imagens basea<strong>da</strong>s em sentimentos —, construído a partir <strong>de</strong> “materiais sociais”. A<br />

pesquisa <strong>de</strong> campo permitiu acessar algumas <strong>de</strong>ssas imagens, pensar como e por quem<br />

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