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Controlando o poder de matar - Núcleo de Estudos da Violência

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• Caráter lúdico <strong>da</strong> cultura e do Júri<br />

Segundo Huizinga (1980: cap. 1), várias e divergentes teorias psicológicas e<br />

fisiológicas levantam hipóteses, não necessariamente exclu<strong>de</strong>ntes, porém parciais, ao<br />

tentarem <strong>de</strong>finir as funções do jogo. As principais <strong>de</strong>las apontam-no como:<br />

a) <strong>de</strong>scarga <strong>de</strong> energia vital superabun<strong>da</strong>nte;<br />

b) satisfação <strong>de</strong> um certo “instinto <strong>de</strong> imitação”;<br />

c) “necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>” <strong>de</strong> distensão, após esforço;<br />

d) preparação do jovem para exigências <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> adulta;<br />

e) exercício <strong>de</strong> autocontrole indispensável ao indivíduo;<br />

f) impulso inato para exercer uma certa facul<strong>da</strong><strong>de</strong>; <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> dominar e<br />

competir;<br />

g) escape para impulsos prejudiciais e/ou compensação <strong>de</strong> <strong>de</strong>sejos insatisfeitos.<br />

Embora o pressuposto comum a to<strong>da</strong>s essas hipóteses seja importante — o <strong>de</strong><br />

que “No jogo existe alguma coisa “em jogo” que transcen<strong>de</strong> as necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s imediatas <strong>da</strong> vi<strong>da</strong><br />

e confere um sentido à ação. Todo jogo significa alguma coisa.” (Huizinga, 1980:3-4) —<br />

Huizinga as consi<strong>de</strong>ra reveladoras <strong>de</strong> preocupações superficiais, uma vez que elas<br />

apontam somente o que o jogo é, em si mesmo, ou o que ele significa para os<br />

jogadores. Em sua opinião, é preciso ir além e analisar o caráter “profun<strong>da</strong>mente estético”<br />

do jogo, ou seja, o fato <strong>de</strong> que é em sua intensi<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>po<strong>de</strong>r</strong> <strong>de</strong> fascinação e capaci<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> excitar “(...) que resi<strong>de</strong> a própria essência e a característica primordial do jogo” (op. cit: 5).<br />

Em outras palavras, on<strong>de</strong> esgotam-se as abor<strong>da</strong>gens psicológica e biológica dos<br />

impulsos e hábitos que condicionam o jogo, começa a teoria <strong>de</strong> Huizinga, para quem o<br />

jogo é fator cultural “significante”: “Se (...) o jogo se baseia na manipulação <strong>de</strong> certas<br />

imagens, numa certa “imaginação” <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> (ou seja, na transformação <strong>de</strong>sta em imagens),<br />

nossa preocupação fun<strong>da</strong>mental será, então, captar o valor e o significado <strong>de</strong>ssas imagens e<br />

<strong>de</strong>ssa “imaginação.” (op. cit: 7).<br />

Partindo <strong>de</strong>sse pressuposto e esten<strong>de</strong>ndo-o às sessões <strong>de</strong> Júri, po<strong>de</strong>mos<br />

percebê-las como basea<strong>da</strong>s na manipulação <strong>de</strong> imagens relativas à regulamentação do<br />

<strong>po<strong>de</strong>r</strong> <strong>de</strong> um indivíduo <strong>matar</strong> outro. Não é esse <strong>po<strong>de</strong>r</strong> <strong>de</strong> <strong>matar</strong>, enquanto ação, que<br />

está em jogo, pois ele já foi exercido por alguém sobre alguém. O caráter estético do<br />

Júri, sua intensi<strong>da</strong><strong>de</strong>, fascínio e excitação resi<strong>de</strong>m na construção <strong>de</strong> julgamentos a<br />

respeito <strong>da</strong>s circunstâncias que tornam o uso <strong>de</strong>sse <strong>po<strong>de</strong>r</strong> legítimo ou ilegítimo.<br />

Depen<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong> como as mortes são conta<strong>da</strong>s e imagina<strong>da</strong>s — transforma<strong>da</strong>s em<br />

imagens a serem julga<strong>da</strong>s —, possíveis usos do <strong>po<strong>de</strong>r</strong> <strong>de</strong> <strong>matar</strong> são socialmente<br />

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