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Controlando o poder de matar - Núcleo de Estudos da Violência

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Opinião idêntica expressou um Procurador <strong>de</strong> Justiça aposentado, ao proferir<br />

uma palestra sobre “A Evolução Histórica do Júri” :”(...) a autori<strong>da</strong><strong>de</strong> do juiz e a do promotor<br />

se confun<strong>de</strong>m como sendo as ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iramente imparciais e corretas, ficando o advogado como<br />

suspeito, alguém parcial. Desqualifica-se, assim, seu papel necessário <strong>de</strong> garantir o direito <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>fesa.” 12<br />

Vale lembrar que as posições <strong>de</strong> promotor e juiz nem sempre foram essas,<br />

conforme se po<strong>de</strong> observar na “Gran<strong>de</strong> Sala do Júri do Palácio <strong>de</strong> Justiça” 13 , hoje<br />

“Museu do Júri”. Até meados do século passado, promotor e advogado sentavam-se<br />

junto ao juiz: um <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> lado, ocupando a mesma mesa 14 .<br />

Em todos os plenários, mesmo nos mais novos, a mesa do juiz situa-se num<br />

plano um pouco superior ao do restante <strong>da</strong> sala. Geralmente, um gran<strong>de</strong> relógio,<br />

semelhante aos <strong>da</strong>s estações <strong>de</strong> metrô <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> (com marcações bem visíveis <strong>de</strong><br />

horas e minutos), fica sobre a porta do corredor, do lado <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro — às costas,<br />

portanto, dos assistentes —, e é por ele que o juiz controla o tempo dos <strong>de</strong>poimentos,<br />

sustentações orais, apartes e intervalos.<br />

No espaço vazio do palco, po<strong>de</strong> ser coloca<strong>da</strong> uma ca<strong>de</strong>ira, com uma pequena<br />

mesa, para que testemunhas e réus <strong>de</strong>ponham, o que sempre fazem <strong>de</strong> frente para o<br />

juiz e, portanto, <strong>de</strong> costas para a audiência.<br />

Os plenários, portanto, seja por sua estrutura física, seja pelas regras<br />

processuais penais que conduzem as sessões, constituem um campo on<strong>de</strong> as posições<br />

dos ocupantes estão bem <strong>de</strong>fini<strong>da</strong>s e têm significados que nos cabem ler e interpretar.<br />

Existe ali uma “gramática espacial” a ser <strong>de</strong>cifra<strong>da</strong>.<br />

Os próprios jurados, que representam o elo entre o mundo “<strong>de</strong> fora” e o “<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>ntro”, entre ser leigo e possuir um saber técnico, ao chegarem, costumam ser<br />

12 - Palestra proferi<strong>da</strong> em 10/05/1999, <strong>da</strong>s 9h às 10h30’, pelo Dr. Hermínio Alberto Marques<br />

Porto, no curso “O futuro do Júri no Brasil”. O programa completo <strong>de</strong>sse curso, promovido pelo<br />

Centro <strong>de</strong> <strong>Estudos</strong> e Aperfeiçoamento Funcional <strong>da</strong> Escola Superior do Ministério Público <strong>de</strong><br />

São Paulo — CEAF/ESMP —, com os títulos <strong>da</strong>s <strong>de</strong>mais palestras e nomes <strong>de</strong> seus respectivos<br />

palestrantes, encontra-se no Anexo 1. Agra<strong>de</strong>ço a seu coor<strong>de</strong>nador, Dr. Herberto Magalhães <strong>da</strong><br />

Silveira Júnior, por ter autorizado minha excepcional inscrição junto a 59 promotores e 60<br />

estagiários do MP que participaram do evento.<br />

13 - Situa<strong>da</strong> no centro <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo, à Praça Dr. João Men<strong>de</strong>s.<br />

14 - Numa pesquisa, já menciona<strong>da</strong> (Nucci, 1999: 160, 346-347), uma amostra <strong>de</strong> jurados do 3 o<br />

Tribunal do Júri <strong>de</strong> São Paulo respon<strong>de</strong>u às seguintes perguntas: “Acha correto o promotor<br />

sentar-se ao lado do juiz no plenário?” — 26,55% respon<strong>de</strong>ram que sim; 20,58% que não e<br />

52,88% <strong>de</strong>clararam-se indiferentes — “O promotor <strong>de</strong>veria sentar-se ao lado do <strong>de</strong>fensor no<br />

plenário?” — 15,71% respon<strong>de</strong>ram que sim; 28,98% que não e 53,32% <strong>de</strong>clararam -se<br />

indiferentes. Essas respostas, segundo Nucci, não revelam se os jurados confiam mais no<br />

promotor do que no <strong>de</strong>fensor, <strong>de</strong>vido à disposição dos mesmos, em plenário, mas ele acredita<br />

que “O ci<strong>da</strong>dão leigo, menos avisado ou pru<strong>de</strong>nte” <strong>de</strong>ixa-se influenciar.<br />

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