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Controlando o poder de matar - Núcleo de Estudos da Violência

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eservado somente para jurados, operadores técnicos e funcionários do tribunal —<br />

vetado a outras pessoas —; o “do meio” que, durante as sessões, abriga, além <strong>de</strong>sses,<br />

também réus e PMs — também vetado a outras pessoas; e o “<strong>da</strong> frente”, aberto a todos<br />

e ocupado por assistentes que po<strong>de</strong>m entrar e sair, a qualquer momento. A única<br />

entra<strong>da</strong> é sempre guar<strong>da</strong><strong>da</strong> por um PM.<br />

Uma <strong>de</strong>codificação possível <strong>de</strong>ssa gramática espacial é a i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> dois<br />

eixos imaginários: um horizontal (⌦) ligando o espaço ocupado pelos jurados ao<br />

ocupado pelo réu e seu <strong>de</strong>fensor, e outro vertical ( ), perpendicular ao anterior, ligando<br />

juiz ao centro <strong>da</strong> assistência.<br />

Em torno do primeiro eixo (⌦), constroem-se os sentidos <strong>da</strong>s narrativas que<br />

têm como objetivo persuadir os jurados — é o eixo pelo qual fluem as palavras, a<br />

gestuali<strong>da</strong><strong>de</strong> e todos os <strong>de</strong>mais sinais <strong>de</strong>ssa linguagem persuasiva. No outro eixo ( ),<br />

em posições homólogas e opostas, estão o juiz e a assistência, o representante máximo<br />

<strong>da</strong> lei e uma mínima representação <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>. Uns e outros formam uma espécie <strong>de</strong><br />

corredor pelo qual flui a linguagem persuasiva. As imagens <strong>de</strong>ssa linguagem têm <strong>de</strong><br />

escoar pelas margens, limites e referências <strong>de</strong>sse “corredor”, impregnando-se <strong>da</strong>s<br />

regras e procedimentos legais, <strong>de</strong> um lado e, <strong>de</strong> outro, <strong>de</strong> normas e valores sociais.<br />

Esses elementos são a matéria prima <strong>da</strong>s narrativas. O orador que melhor elaborá-la,<br />

no sentido <strong>de</strong> melhor sintonizar-se com os enigmáticos e silenciosos jurados para, <strong>de</strong><br />

fato, convencê-los e atingi-los, com seus argumentos, será o vencedor do jogo.<br />

Outra leitura possível, menos profana, é a <strong>de</strong> que sacraliza-se, no “círculo<br />

mágico” <strong>de</strong>sse ritual lúdico do Júri, especialmente no espaço aparentemente vazio e<br />

central do plenário, algo que está no limiar entre o divino e o humano: o exercício e o<br />

<strong>po<strong>de</strong>r</strong> <strong>de</strong> julgar vi<strong>da</strong>s e mortes, tanto que o réu, no momento <strong>de</strong> ouvir a sentença,<br />

ocupará esse espaço central, postando-se em pé, <strong>de</strong> frente para o juiz.<br />

Tanto uma leitura quanto outra sugerem semelhanças entre a gramática espacial<br />

dos plenários e a <strong>de</strong> uma tradicional igreja católica apostólica romana. Nessa também<br />

temos as três divisões: o fundo do altar, ocupado pelo sacrário — secreto, fechado, só<br />

acessível ao padre —, o meio do altar, com a mesa do sacerdote ao centro e ca<strong>de</strong>iras<br />

laterais para <strong>de</strong>mais participantes seletos <strong>da</strong> missa — coroinhas, fiéis que lerão<br />

passagens <strong>da</strong> Bíblia, outros sacerdotes etc — e, separados por uma divisória <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>graus e/ou <strong>de</strong> uma gra<strong>de</strong> baixa, à frente do altar, ficam os bancos para os fiéis. A<br />

maior diferença entre o que se passa nos espaços do plenário e <strong>da</strong> igreja católica,<br />

talvez, seja que, nela, o eixo imaginário pelo qual flui a linguagem persuasiva é,<br />

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