Método sobre os Teoremas Mecânicos - Unicamp
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Capítulo 1<br />
Introdução<br />
O padre Ioannes Mironas terminou seu trabalho em 14 de abril de 1229 ... Naquele<br />
ano, 14 de abril foi véspera do domingo de Páscoa. Por tradição, nesse dia as pessoas<br />
faziam doações a instituições religi<strong>os</strong>as para a salvação de suas almas. Que doação<br />
extraordinária fez Ioannes ...<br />
No dia do aniversário da ressurreição de Cristo, Ioannes Myronas deu ao mundo seu<br />
mais importante palimpsesto e salvou <strong>os</strong> segred<strong>os</strong> de Arquimedes.<br />
Com essas frases Reviel Netz e William Noel terminam de descrever no seu livro Códex<br />
Arquimedes a história do fam<strong>os</strong>o palimpsesto de Arquimedes. 1<br />
No século XIII, época de Ioannes Mironas, o papel ainda não era difundido no Ocidente e <strong>os</strong><br />
livr<strong>os</strong> eram escrit<strong>os</strong> em pergaminh<strong>os</strong>. O pergaminho era (e ainda é) obtido a partir de uma pele<br />
animal submetida a um processo químico, usualmente com cal, e a uma raspagem para permitir<br />
uma boa adesão da tinta à sua superfície. Portanto, é natural que, sendo obtid<strong>os</strong> por um processo<br />
razoavelmente complexo, não houvesse uma grande abundância de pergaminh<strong>os</strong>.<br />
Por esse motivo tornou-se muito comum a técnica do palimpsesto, que nada mais é do que a<br />
reciclagem d<strong>os</strong> pergaminh<strong>os</strong>. O termo palimpsesto deriva de duas palavras gregas: παλιν (palin<br />
= de novo) e ψηω (pseo = esfregar, raspar). O seu significado indica que o pergaminho usado<br />
como suporte do texto foi raspado mais de uma vez.<br />
Ao começar a escrever o seu livro de orações, o padre Ioannes Mironas não tinha <strong>os</strong> pergaminh<strong>os</strong><br />
necessári<strong>os</strong> e teve que se socorrer da técnica do palimpsesto. Para isso reciclou <strong>os</strong><br />
materiais disponíveis, entre eles alguns pergaminh<strong>os</strong> antig<strong>os</strong> contendo text<strong>os</strong> greg<strong>os</strong> de matemática<br />
que certamente não tinham muita utilidade para <strong>os</strong> monges. Feita a raspagem, ele escreveu<br />
no palimpsesto as suas orações, que foram lidas pel<strong>os</strong> monges durante algumas centenas de<br />
an<strong>os</strong>. Felizmente a raspagem não foi muito bem sucedida e o texto matemático original não foi<br />
totalmente eliminado.<br />
Em 1899 foi feito um catálogo das obras existentes no Metochion, 2 biblioteca do Santo Sepulcro<br />
de Jerusalém, em Constantinopla. No catálogo foi identificado um manuscrito de orações<br />
contendo, parcialmente apagado, um texto grego de matemática. Tratava-se do livro escrito por<br />
Ioannes Mironas 670 an<strong>os</strong> antes.<br />
Em 1906 o professor Johan Ludwig Heiberg (1854-1928), Figura 1.1, da Universidade de<br />
Copenhague tomou conhecimento da existência em Constantinopla, de um palimpsesto contendo<br />
text<strong>os</strong> greg<strong>os</strong> de matemática. Ele foi um estudi<strong>os</strong>o excepcional e pesquisador infatigável d<strong>os</strong><br />
clássic<strong>os</strong> greg<strong>os</strong> de matemática a<strong>os</strong> quais dedicou grande parte da sua vida.<br />
1 [1, págs. 287-288]<br />
2 Ver Códex Arquimedes, pág. 138.<br />
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