Contadores de Histórias - Histórias Interativas
Contadores de Histórias - Histórias Interativas
Contadores de Histórias - Histórias Interativas
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
<strong>Contadores</strong> <strong>de</strong> <strong>Histórias</strong>: um exercício para muitas vozes<br />
188<br />
nas histórias contadas em sinais; no entanto, o registro <strong>de</strong> histórias contadas no passado<br />
permanece na memória <strong>de</strong> algumas pessoas surdas ou foram esquecidas. Desse<br />
modo, quando analisamos as histórias contadas em sinais, percebemos formas visuais<br />
do registro <strong>de</strong>ssas histórias, por exemplo, através da filmagem <strong>de</strong> histórias (fitas VHS,<br />
CD, DVD), <strong>de</strong> textos impressos que apresentam imagens, fotos e/ou traduções para<br />
o português. O registro da literatura surda começou a ser possível principalmente a<br />
partir do reconhecimento da Libras e do acesso à tecnologia, que possibilitaram formas<br />
visuais <strong>de</strong> registro dos sinais.<br />
As histórias contadas por surdos em línguas <strong>de</strong> sinais marcam a cultura surda, são<br />
caracterizadas pela experiência visual, corporificadas em prosa e verso <strong>de</strong> um modo<br />
singular, em que o enredo, a trama, a linguagem utilizada e os sinais evi<strong>de</strong>nciam<br />
o caminho da autorepresentação dos surdos na luta pelo estabelecimento do que<br />
reconhecem como suas i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s, legitimando sua língua, suas formas <strong>de</strong> narrar as<br />
histórias, suas formas <strong>de</strong> existência, suas formas <strong>de</strong> ler, traduzir, conceber e julgar os<br />
produtos culturais que consomem e que produzem.<br />
Para a análise das produções culturais em comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> surdos, <strong>de</strong>slocamo-nos<br />
entre a diferença linguística e cultural, entre fronteiras <strong>de</strong>finidas e limites porosos, entre<br />
pessoas que compartilham a experiência visual e o uso <strong>de</strong> uma língua <strong>de</strong> sinais. Como<br />
pesquisadores, preocupa-nos o fato <strong>de</strong> que o que aparentemente são “histórias que nos<br />
fazem rir” possam, no entanto, servir para nutrir caricaturas e estereótipos. Entramos<br />
em cena à procura <strong>de</strong> histórias e, às vezes, involuntariamente, caminhamos em direção<br />
ao campo das construções do “outro”, nutrindo uma política <strong>de</strong> representação que frequentemente<br />
contribui para uma caricatura das mulheres e dos homens surdos.<br />
Uma vez que coletamos histórias <strong>de</strong> nossos contadores, a próxima etapa a <strong>de</strong>monstrar<br />
dificulda<strong>de</strong> envolve a interpretação, a tradução e a intraduzibilida<strong>de</strong>. Quando<br />
analisamos e traduzimos histórias/narrativas produzidas em língua <strong>de</strong> sinais, nós –<br />
pesquisadores — estamos inclinados a sermos atraídos pelo exótico, pelo bizarro, pelo<br />
violento. À medida que fazemos uma reflexão sobre as narrativas em sinais, nos sentimos<br />
na obrigação <strong>de</strong> explorar meticulosamente a rotina, o cotidiano, a experiência