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Contadores de Histórias - Histórias Interativas

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<strong>Contadores</strong> <strong>de</strong> <strong>Histórias</strong>: um exercício para muitas vozes<br />

38<br />

do caminho <strong>de</strong>i com Outra Praça, e dá-lhe gente em volta <strong>de</strong> uma figura que cantava,<br />

ao meu ver, <strong>de</strong> forma encantadora. Eu po<strong>de</strong>ria muito bem fazer “ouvidos-<strong>de</strong>-tô-compressa”,<br />

passar, literalmente, ao largo da dita praça, mas, em vez disso, me vi atraído<br />

<strong>de</strong> tal maneira pelo entoo da Cantiga (era uma Cantiga <strong>de</strong> Roda em tom <strong>de</strong> peditório,<br />

acreditem), que pra lá fui levado a correr.<br />

Quando me <strong>de</strong>i conta, estava <strong>de</strong> cabeça, juízo e tudo, enfiado no meio daquela<br />

plateia que, mesmo compacta, me parecia uma imensidão humana, tamanha a simbologia<br />

do acontecido no meio daquele círculo <strong>de</strong> expressões atentas: Um Cego-Trovador.<br />

No impulso <strong>de</strong> quem tem a vivência <strong>de</strong> “rodar o chapéu, a cada função, perante o<br />

respeitável público (no meu caso, rodo sempre o Folheto <strong>de</strong> Literatura <strong>de</strong> Cor<strong>de</strong>l), fiz<br />

zunir uma moeda no ar, que tilintou no miolo <strong>de</strong> um chapéu, que figurava no Centro<br />

da Roda. No boca a boca <strong>de</strong> todos ali presentes, ouvi um “Viva! Viva a moeda da<br />

sorte, que <strong>de</strong> longe acertou a boca do ganha-pão...”. Num gesto-meio-passe-<strong>de</strong>-mágica,<br />

o cego fez calar o vozerio e suspen<strong>de</strong>u a cantoria. Cada um ali em volta fazia vez <strong>de</strong><br />

quem tinha uma história pra contar. Vendo no Cego uma História Viva em Pessoa,<br />

não hesitei em dimensionar a importância do que ali chamei – lá entre meus botões<br />

e pensamento – Teatro <strong>de</strong> Circunstância: aconteceu, virou diálogo. E um diálogo<br />

comecei – meio prosa, meio verso –, perguntando como o Cego se chamava:<br />

“Deusnumdé”! Respon<strong>de</strong>u ele. “Deus num quê”!? Saiu a exclamação, num coro<br />

<strong>de</strong> muitas vozes. “Deus num <strong>de</strong>u olhos pra ver, mas <strong>de</strong>u o dom da visão”. O Cego<br />

assim respon<strong>de</strong>u, em tom <strong>de</strong> improvisação. Em torno ouviu-se o estalar <strong>de</strong> mãos,<br />

como se a praça inteira o aplaudisse <strong>de</strong> pé. No Centro da Roda – boca para o céu virada<br />

– o chapéu num instante havia multiplicado os valores. Levado por certo encantamento,<br />

no Cego quase me encostei. Olhando em seus olhos, vi que o Cego “me via<br />

por <strong>de</strong>ntro”. Situação <strong>de</strong> um sonho enriquecedor, da qual eu dou testemunho: ele era<br />

eu, eu era ele e a Roda já era Outra. Um Mar <strong>de</strong> Encantaria fez vulto em meu pensamento.<br />

E na Cadência do Verso <strong>de</strong> DeusNumDé tive a prova: o danado do Cego em<br />

seu Universo Popular, nos abre os olhos para o lugar que ocupa, muitas vezes invisível,<br />

nesta Ciranda <strong>de</strong> <strong>Histórias</strong>, no dia a dia a rodar...

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