Contadores de Histórias - Histórias Interativas
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alguns valores. A segunda é que as histórias mantêm sempre aceso o farol da imaginação,<br />
da criativida<strong>de</strong>, da curiosida<strong>de</strong>, da ludicida<strong>de</strong>. Elas <strong>de</strong>spertam o espírito juvenil<br />
que existe em qualquer pessoa, seja criança ou adulto. Quem sabe muitas histórias,<br />
certamente é porque ouviu, leu ou contou. Assim, dispõe <strong>de</strong> mais conhecimentos<br />
para enfrentar situações novas durante o seu percurso <strong>de</strong> vida, uma vez que, ao contrário<br />
da maioria das formulações científicas, as histórias rejeitam verda<strong>de</strong>s unívocas<br />
e permitem soluções múltiplas.<br />
É bom lembrar que, embora nenhum <strong>de</strong> nós vá viver para sempre, as histórias<br />
conseguem, pois enquanto restar uma única pessoa que saiba contá-las, elas não morrerão.<br />
Na condição <strong>de</strong> animais gregários, atualizamos dia após dia o ato <strong>de</strong> narrar.<br />
Talvez para enten<strong>de</strong>r quem somos ou para tomar consciência <strong>de</strong> que existimos. Para<br />
Clarissa Pinkola Estés, “as histórias que as pessoas contam entre si criam um tecido<br />
forte que po<strong>de</strong> aquecer as noites espirituais e emocionais mais frias” 1 . Somente elas<br />
revelam a aptidão peculiar e preciosa que os humanos possuem em obter êxito nas<br />
tarefas mais árduas. Fornecem, também, as instruções essenciais que precisamos para<br />
ter uma vida útil, necessária, irrestrita, significativa.<br />
Segundo Joseph Campbell, contamos histórias para entrar em acordo com o mundo,<br />
para harmonizar nossas vidas com a realida<strong>de</strong>2 . Sempre que me perguntam porque<br />
gosto tanto <strong>de</strong> histórias, costumo afirmar que o meu interesse por essas narrativas<br />
ancestrais nasceu na infância, pois cresci à sombra <strong>de</strong>ssa tradição dos meus antepassados<br />
no litoral sul do estado do Rio Gran<strong>de</strong> do Norte, nor<strong>de</strong>ste do Brasil. Des<strong>de</strong> cedo<br />
fui marcado na alma por uma heráldica narrativa que permanece até hoje. As histórias<br />
sempre estiveram presentes na minha vida, seja por meio dos contos narrados pelos<br />
contadores tradicionais do lugar on<strong>de</strong> nasci ou pelos vários livros <strong>de</strong> literatura lidos e<br />
relidos por mim ao longo dos anos.<br />
Hoje, nos momentos em que olho para trás, relembro o quanto as histórias<br />
permaneceram na minha memória, alimentaram a minha imaginação <strong>de</strong> emoções<br />
extraordinárias e tiveram uma ressonância na minha formação pessoal e profissional.<br />
Na minha tenra ida<strong>de</strong> nunca achei necessário dizer obrigado por aquelas porções <strong>de</strong><br />
1. O dom da história: uma fábula sobre o que é suficiente. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Rocco, 1998, p. 38-39.<br />
2. O po<strong>de</strong>r do mito. Palas Athena, 1998<br />
Carlos Al<strong>de</strong>mir Farias<br />
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