Contadores de Histórias - Histórias Interativas
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ormente, traduzidos – o que costuma apresentar melhores resultados.<br />
A importância <strong>de</strong> encontrar várias versões <strong>de</strong> uma mesma história é a possibili-<br />
da<strong>de</strong> <strong>de</strong> perceber o quanto foi preservado da essência daquela narrativa e o quanto<br />
há <strong>de</strong> adaptação do autor, que muitas vezes “adultera” ou “corrige” o conteúdo do<br />
mito para que o seu teor “primitivo” não entre em atrito com as normas sociais <strong>de</strong><br />
conduta <strong>de</strong> nossa cultura.<br />
Após o contato <strong>de</strong> nossa socieda<strong>de</strong> com os povos indígenas, foram criados projetos<br />
que visam registrar sua história mítica como, por exemplo, nas publicações utilizadas<br />
nas escolas indígenas ou em livros publicados por escritores indígenas – que, em<br />
diversos estilos literários, revelam a tradição ancestral. É a palavra dos antigos – que<br />
fala do tempo em que o mundo foi criado – apresentada pela nova geração, que<br />
mesmo após incorporar à sua cultura inovações como o uso da internet, luta para<br />
manter vivo o pensamento e o modo <strong>de</strong> vida harmônico <strong>de</strong> seu povo. Assim, apesar<br />
<strong>de</strong> terem sofrido mudanças significativas em seu imaginário, eles encontram meios <strong>de</strong><br />
manter a sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e reverenciar a sabedoria ancestral.<br />
Voltando a “Contos indígenas”: optei por trabalhar no espetáculo com a corporalida<strong>de</strong><br />
como um meio <strong>de</strong> contar as histórias. Sempre me saltava aos olhos a maneira<br />
como os indígenas narram seus mitos. Um exemplo: na época em que trabalhei no<br />
projeto Rito <strong>de</strong> Passagem, do Instituto das Tradições Indígenas /IDETI, durante uma<br />
conversa com “Seu” Joaquim Yawanawá, ouvi-o narrando em pano (sua língua <strong>de</strong><br />
origem) o trecho <strong>de</strong> uma história. Eu não entendia o significado do que ele dizia,<br />
mas era impressionante o vigor e intensida<strong>de</strong> com que me contava os fatos; os gestos<br />
que fazia. Era como se revivesse na frente <strong>de</strong> sua ouvinte cada personagem e acontecimento.<br />
Sei que há outras possibilida<strong>de</strong>s, mas neste trabalho optei por uma forte<br />
presença da corporalida<strong>de</strong> para, <strong>de</strong> algum modo, trazer ao imaginário do público um<br />
encantamento e uma espécie <strong>de</strong> sentido ritual que consi<strong>de</strong>ro bastante a<strong>de</strong>quados para<br />
uma narração mítica.<br />
Como abordava três etnias diferentes, acabei optando por uma pesquisa mais<br />
genérica sobre referências corporais dos povos, encontrando uma corporalida<strong>de</strong><br />
Daniele Ramalho<br />
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