Contadores de Histórias - Histórias Interativas
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[Paulo Siqueira]<br />
Meus avós eram da roça e eu passava todos os finais <strong>de</strong> semana ou férias lá. Me<br />
Mlembro bem que minha avó realmente acreditava no Saci, assim como as pessoas<br />
da região. Vejam bem, não era um folclore, as pessoas tinham visto, tinham tido ou<br />
conheciam quem tivesse vivido alguma experiência com o Saci. É diferente dos a<strong>de</strong>sivos<br />
em carros do “eu acredito em duen<strong>de</strong>s”. Não era uma questão <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>, mas<br />
uma realida<strong>de</strong> próxima. Meu avô nasceu em 1905, ele viu a cerca chegar ao nor<strong>de</strong>ste,<br />
e meus pais, que são <strong>de</strong> 1934, nasceram num país rural e participaram do processo<br />
<strong>de</strong> urbanização do país. Hoje temos um Saci domesticado e tratado <strong>de</strong> forma lúdica,<br />
não po<strong>de</strong>ria ser diferente, vivemos num país mo<strong>de</strong>rno, urbano, virtual, digital e globalizado.<br />
Para meus avós a escuridão do campo à noite, o som do vento, das corujas<br />
piando no escuro, os insetos, as formas das árvores sob a lua, tudo isso possibilitava<br />
uma sensação <strong>de</strong> obscurida<strong>de</strong> com relação à noite e aos entes que por ela corriam. A<br />
noite urbana é diferente, cheia <strong>de</strong> luzes, sons <strong>de</strong> pessoas, carros, música, etc. Mas se<br />
o Saci nos parece uma fantasia distante, por outro lado o E.T. <strong>de</strong> Varginha existe, ah<br />
existe, sim! Existe porque eu conheço gente que viu o hospital cercado pelos soldados<br />
da aeronáutica e que conhecem as meninas que os viram, lembra o segredo <strong>de</strong> Fátima,<br />
né? Ou seja, tirando à parte a existência ou não <strong>de</strong>sses mitos, a necessida<strong>de</strong> humana<br />
<strong>de</strong> vivenciá-los ainda persiste. Graças a Deus! Por isso mantenho meu emprego. Mas<br />
como se diz em física: na natureza nada se cria, nada se per<strong>de</strong>, o mito se transforma!<br />
Se meu avô contava suas histórias <strong>de</strong> caçada <strong>de</strong> onça, se minha avó contava sobre o<br />
cangaço e Sinhô Pereira, ou Neco Valõe, Lampião, Luiz Padre, Corisco... hoje, quan-<br />
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