Racionalismo Cristão
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para a grande ofensiva contra o erro, a ignorância, e também para dar<br />
tempo ao tempo, evitando as improvisações e inoportunidades.<br />
Tanto Luiz de Mattos como Luiz Thomaz e os demais espíritos que<br />
tomaram parte no lançamento da Doutrina na Terra, sob a direção central<br />
de Antônio Vieira, estão unidos, desde os primeiros momentos em que<br />
foram firmadas as bases desta obra, e unidos continuarão acompanhando e<br />
dirigindo a sua evolução até que ela alcance a meta principal de<br />
esclarecimento da humanidade.<br />
A personalidade de Antônio Vieira está bem caracterizada na<br />
história, por onde se confirma a natureza varonil, independente,<br />
destemerosa e segura das suas convicções. Foi um grande orientador. O rei<br />
de Portugal, D. João IV, ouvia-o antes de tomar qualquer decisão<br />
importante. Fê-lo embaixador em espinhosos encargos, sempre confiante<br />
no desempenho elevado das suas missões. Era leal e verdadeiro nas<br />
exortações, havendo se mostrado um baluarte na defesa da moralidade dos<br />
costumes e na rigidez do procedimento. Vieira era um lema, uma<br />
bandeira, um fanal. Irredutível em questões de honestidade, foi um<br />
exemplo de fidelidade aos seus princípios, e um Mestre no sustentar a<br />
pureza da filosofia que adotava.<br />
Compreende-se o valor do <strong>Racionalismo</strong> <strong>Cristão</strong> através da<br />
luminosidade dos seus fundadores, dentre os quais, em Plano Astral, como<br />
estrela de primeira grandeza, fulgura, destacadamente, Antônio Vieira.<br />
Dizem os historiadores que Vieira foi um espírito fértil e inventivo,<br />
de ânimo resoluto, e um conselheiro prudente e moderado. Pelo seu saber<br />
impôs-se à confiança de D. João IV, que o considerava o primeiro homem<br />
do mundo. Com esse conceito, tornava-se, dia a dia, mais necessária a sua<br />
presença nas conferências do reino e nas reuniões secretas em que se<br />
decidiam os mais graves e importantes negócios de Estado.<br />
Os Tribunais designavam seus membros para consultá-lo sobre<br />
assuntos da sua própria alçada. Foi nomeado preceptor e mestre do<br />
príncipe herdeiro D. Teodósio, que preparou para ser um grande rei, e ele<br />
o teria sido, se o seu prematuro desaparecimento não lhe tivesse cortado a<br />
carreira.<br />
Vieira era considerado o homem mais capaz de que dispunha<br />
Portugal para defender o País das artimanhas da política exterior. Ele foi, a<br />
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um só tempo, missionário e diplomata, financista e estadista, além de<br />
filósofo. À admirável fecundidade de sua inteligência, eram submetidas as<br />
questões de economia política, de impostos, as relacionadas com as<br />
instituições de comércio, com a marinha, guerra, cessões de territórios,<br />
tratados e alianças. Segundo os historiadores, esse homem extraordinário<br />
foi o maior de Portugal em seu tempo, e um dos maiores de toda a história<br />
lusa.<br />
Era inteiramente desprendido em matéria de dinheiro e riquezas. Nas<br />
missões diplomáticas em Paris, Roma e Haia, limitava-se sempre a gastar<br />
o indispensável dentro de uma linha de discreta simplicidade. Se das<br />
viagens que fazia lhe sobravam algumas dobras, restituía-as,<br />
escrupulosamente, sem se beneficiar da menor quantia que fosse. Dos<br />
Sermões, nunca recebeu as espórtulas regulamentares, recusando<br />
proventos que considerava ilícitos.<br />
Certa vez, dada a sua amizade com o rei, empenhava-se com ele em<br />
negócio de grandes resultados, quando pessoas interessadas no mesmo,<br />
cientes dessa intervenção graciosa, fizeram chegar até ele uma bolsa com<br />
seis mil dobrões de ouro, e para não parecer que o estavam subornando,<br />
mandaram-lhe dizer que distribuísse essa importância com os pobres.<br />
Vieira, percebendo o intento dos mercadores, e indignando-se,<br />
recusou a oferenda, não antes de fazer ver ao portador, com aquela<br />
maneira franca que tinha de dizer as coisas, que diante de tal atrevimento<br />
merecia que o fizesse descer pela janela, ao invés de pela escada.<br />
Entre ridículas denúncias ao Santo Ofício de indivíduos malintencionados,<br />
foi acusado, por alguns padres, de possuir livros de<br />
profecias, de aconselhar a instalação de sinagogas judaicas particulares em<br />
Lisboa, (a exemplo do que era permitido em Roma), de defender os judeus<br />
das perseguições do jesuitismo intolerante e de não crer na infalibilidade<br />
do Papa, do que resultou ser submetido a humilhante interrogatório,<br />
processado e preso.<br />
Durante alguns anos, esteve interditado em Colégio Jesuíta, e por<br />
dois anos e três meses encarcerado, incomunicável, em um lúgubre<br />
cubículo de cerca de oito metros quadrados de área, sem luz, mal arejado,<br />
servido de uma cama, um cântaro, uma mesinha, um banco e um vaso de<br />
despejos.<br />
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