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GUERRA DOS MASCATES JOSÉ DE ALENCAR

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O governador é um trapalhão que não ata nem desata. Olhe, senhora,<br />

o verdadeiro era untarem as unhas ao Camarão, e então veriam a<br />

pisa que lhes ele assentava, na cabralhada de Olinda, e não lhe<br />

doessem as mãos, que é do que eles andam muito carecidos.<br />

- Que o governador é remanchão, isso é, acudiu a Josefa do Cartacho<br />

em tom de importância. Fosse ele outra casta de homem que já o<br />

Recife estava cansado de ser vila.<br />

- Apelo eu! tornou Rufina. Que estas cousas assim de supetão,<br />

senhora, sempre saem aferventadas. O D. Sebastião de Castro, fique<br />

com esta que eu lhe digo, é manhoso, e sabe o nome aos bois, como<br />

diz o meu homem. De mais a mais, enquanto ele estiver por nós,<br />

ainda que vá empalhando, somos do partido do rei, que sempre serra<br />

de cima. Por isso é que eu sustento, minha gente; nada de barulhos;<br />

que tudo se há de arranjar com jeito e paciência. Quem é que vai<br />

meter seu gadanho no fogo, quando pode tirar a sardinha com a mão<br />

do gato?<br />

Um zumbido de aprovação acolheu o discurso da mulher do almotacé,<br />

prova de que predominava no concílio feminino o partido da paz.<br />

Efetivamente as recifenses, apesar de seu vivo desejo de verem<br />

criada a sua vila, não dissimulavam que os maridos, pais e irmãos,<br />

destros em manejar a vara e o côvado, fariam triste figura com as<br />

armas na mão; além de que não eram de todo insensíveis à galhardia<br />

dos mancebos de Olinda, os quais preparando-se a vencer os<br />

mascates, se rendiam aos requebros dos olhos feiticeiros das lindas<br />

mercadoras.<br />

- Tá, tá, tá! treplicou a Engrácia, oposicionista acérrima. Vá-se fiando<br />

no bicho, que depois eu lhe contarei uma história. Olhem, gentes, eu<br />

sempre enquijilei com homem sonso.<br />

Neste ponto barafustou pela casa dentro a Inacinha, a quem vinha<br />

comendo a língua a novidade que trazia.<br />

- Ora muito bem chegada! disse a Rufina.<br />

- Mais vale tarde do que nunca! observou a Rosaura a rir.<br />

- Para a nova que trago, antes nunca chegasse! tornou a Inacinha<br />

com ar de importância.<br />

- Que nova é essa, mulher? perguntou a Rufina.<br />

- Que é?... Que é?... Ora adivinhem!<br />

- Despache-se de uma vez, criatura. Não esteja ai a resmoer a gente!<br />

acudiu a Rosaura, que já se achava sobre brasas.<br />

- Que há de ser? Um desaforo!...<br />

- Da ralé de Olinda?<br />

- De quem mais?<br />

- Mas então que foi?<br />

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