16.04.2013 Views

GUERRA DOS MASCATES JOSÉ DE ALENCAR

GUERRA DOS MASCATES JOSÉ DE ALENCAR

GUERRA DOS MASCATES JOSÉ DE ALENCAR

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Muito ancho de si, o digno mascate já se regozijava de ter uma vez na<br />

a feito as cousas ao agrado da querida metade, quando lhe veio ela<br />

deitar água na fervura. Esguelhando à parede um olhar impertinente,<br />

espevitou o nariz, torceu o beiço, e deu um muxoxo, que erriçou os<br />

cabelos ao marido.<br />

Barulh0 no caso: novo apelo ao borrador que gizou a combinação do<br />

verdete com o zarcão; e assim, de rezinga em rezinga, chegou-se<br />

àquele espalha. fato de todas as cores, onde o azul brigava com o<br />

encarnado, o verde com o vermelho, e o roxo-terra com o amarelo da<br />

oca. Era cousa indescritível, que o prospeto de algumas tabernas de<br />

hoje ainda não conseguiu imitar.<br />

Nos primeiros dias esteve a casa de mostra aos basbaques e<br />

pascácios que por lá iam, para se pasmarem diante daquela<br />

maravilha. Por um mês não se falou no Recife doutra cousa; até que<br />

um dia lá apareceu pela manhã escrito a carvão, na frente, este<br />

dístico maligno - Perereca.<br />

Lavou-se da parede a tisna, mas a alcunha ficou ai fisgada à casa,<br />

como se a tivessem gravado em bronze. Fora o brejeiro de um rapaz<br />

que, voltando a ave-maria da escola e ouvindo cantar a rã numa<br />

touça de bananeiras, lembrou-se da semelhança que tinha com a<br />

frente da casa, e escreveu-lhe o nome na parede. Ao outro dia, antes<br />

que apagassem as letras, sucedeu passarem ai um frade, uma<br />

comadre e um soldado. Leu o franciscano em voz alta, se julgando a<br />

sós, e riu-se: ouviram-no os dois que atinaram com a graça.<br />

Tanto bastou para que ao meio-dia se soubesse em todo o Recife do<br />

acontecido; e, pelo plebiscito do motejo unânime, a casa sarapintada<br />

ficou sendo conhecida pelo nome expressivo de - Casa do Perereca.<br />

Cobria o edifício um telhado de largas abas e alto cocuruto, que<br />

lançava em cada quina uma ponta de barro com pretensões a figura<br />

de marreca. Nas duas faces laterais erguiam-se as águas-furtadas do<br />

sótão, que rasgava duas janelas, uma para cada banda.<br />

Na janela da direita, que durante o dia estava aberta sempre, de<br />

costume estendiam em um cordel passado de uma à outra ombreira<br />

certa colcha de chita de ramagens, que ao sopro do vento<br />

desfraldava-se à guisa de estandarte. Quem tinha a dita de conhecer<br />

a Sra. Rufina Ribas, acertando de passar por aqueles sítios e dando<br />

com o espantalho da tal coberta, adivinhava logo que era da garrida<br />

matrona essa janela.<br />

Tinha outro ar e outros modos a janela da esquerda. Começava logo<br />

por uma latada que lhe haviam armado em volta, e lhe servia como<br />

de capuz, com as ramadas do maracujazeiro, entrelaçada pelos<br />

escaques do caramanchel. Dava-lhe isso, à tal janelinha, uns biocos<br />

de freira, mas de freira moça e bonita, que lá do remanso do claustro<br />

15

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!