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GUERRA DOS MASCATES JOSÉ DE ALENCAR

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- Sempre quero mostrar que ainda não estou molambo que se bota<br />

fora.<br />

E o velho apanhando uma das catanas que rolavam pelo chão,<br />

apanhou-a como quem entendia do ofício e fez com a espada um<br />

molinete que ninguém por certo esperaria de semelhante podão.<br />

Riu-se Nuno desses floreios, e levando a mão à cinta, cruzou o ferro,<br />

certo de em dois tempos desarmar o velho, mas saiu a cousa às<br />

avessas, pois foi a sua espada que saltou-lhe da mão.<br />

- Oh! senhor escudeiro, não dê barrigadal<br />

- E então, o velhinho não é da carepa?<br />

Apanhou o Nuno a espada e vinha cego sobre o velho para despicarse,<br />

mas este, como se o grande esforço que fizera o houvesse<br />

extenuado, se abordoara a um tronco d'árvore para não cair, e mal<br />

podia tomar fôlego.<br />

- Eis em que dão as fanfarronadas! disse o Nuno.<br />

O velho, como que envergonhado da sua bravata, foi-se esgueirando<br />

pelo corredor, não sem lançar um olhar significativo a Leonor cujas<br />

faces se cobriam de uma lividez mortal.<br />

Sob aquele disfarce, reconhecera a donzela Vital Rebelo, sobretudo<br />

quando brandindo a espada, o velho perfilou o talhe; da aventura do<br />

tempo dos holandeses compreendeu ela que o marido se preparava a<br />

arrancá-la do poder de seus parentes, e dava-lhe aviso por aquele<br />

meio em falta de outro.<br />

E não se enganara. Vital não contando senão consigo, resolvera<br />

libertar sua mulher do cativeiro em que a traziam e, antes de levar a<br />

cabo a empresa, julgou prudente explorar o campo e dar aviso a<br />

Leonor. Com esse fito se disfarçou, valendo-se do pretexto que lhe<br />

ofereceu a leva do Nuno.<br />

Deixando Olinda, foi o alferes em busca de seu cavalo, que ficara<br />

oculto em uma palhoça de pescador perto do Brum, e só à tarde<br />

ganhou o Recife. Ia dispor as cousas para realizar o seu plano naquela<br />

mesma noite.<br />

Vital receava que de um momento para outro as cousas políticas se<br />

baralhassem de modo a trazer um rompimento entre os nobres e os<br />

mascates; o que não deixaria de estorvar-lhe a empresa, pelo reforço<br />

de que se haviam de cercar os moradores de Olinda.<br />

Naqueles dias passados o negócio parecia ter chegado ao desenlace<br />

com a imprudência do Leonardo Bezerra e seu filho, de que se tratou<br />

no capitulo anterior. Quando chegou a Olinda a notícia da prisão dos<br />

dez pernambucanos, a voz geral foi pelo levante.<br />

Mas um oficial de sala do governador fora a visita em casa do capitãomor,<br />

e ai afirmou que Sebastião de Castro não se tinha decidido ainda<br />

a favor dos mascates, pelo que fora rematada indiscrição dos<br />

olindenses o provocarem a medidas de rigor. Acrescentava que, ainda<br />

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