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GUERRA DOS MASCATES JOSÉ DE ALENCAR

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- É tempo já que venhamos a uma congruência feliz para os negócios<br />

de Pernambuco, ameaçado de completa ruína pela soberba e aleivosia<br />

dos mercadores do Recife. E como o lembrar é para todos, enquanto<br />

que o avisar só cabe a poucos, e esses de muito conselho e<br />

experiência, pareceu-me comunicar-vos o que entendo sobre estas<br />

cousas, em que andam. empenhados nossos brios de pernambucanos,<br />

tão pisados nestes últimos tempos, e o respeito a uma pátria ilustre,<br />

que não havemos de consentir se torne feitoria de mascates.<br />

- Qual é pois vosso alvitre, Capitão André de Figueiredo? disse o velho<br />

Cavalcanti já de todo derreado contra o espaldar. Dai-nos a saber;<br />

contanto que não seja algum partido extremo.<br />

- Para o sujeitar ao voto do tio e de todos os senhores e parentes,<br />

que ministros melhores não podem ter os negócios de Pernambuco, o<br />

trouxe eu; e não é outro senão o de rompermos de uma vez em<br />

defesa da pátria e da liberdade pernambucana, intimando com<br />

antecedência ao governador esta resolução, para o caso de que<br />

prefira ele arrepiar do mau caminho e enxotar de ao redor de si a<br />

súcia dos mascates. E fio-vos eu, que em tendo a cousa por certa, ele<br />

o fará. Se porém persistir no seu erro, recambiemo-lo a Lisboa com<br />

um manifesto a El-Rei em o qual lhe exporemos nossos agravos e as<br />

razões maiores que nos levaram à forçosa necessidade de<br />

despedirmos desta terra o mau ministro que lhe pôs por governador.<br />

O manifesto, senhores e parentes, aqui o tenho já; fê-lo a rogo meu,<br />

nosso amigo, o licenciado Davi de Albuquerque.<br />

Abriu então André de Figueiredo o rolo de papel que tinha fechado na<br />

mão esquerda enquanto falava; e mostrou em roda o manuscrito, do<br />

qual se preparava a dar leitura aos circunstantes.<br />

Nesse momento o bacharel Uchoa, que ouvia ao capitão com um<br />

sentido grave e atento, enfrestou por cima das vidraças um olhar<br />

significativo a D. Lourença, e temperando ao de leve a garganta,<br />

propôs-se a dar seu voto:<br />

- Senhores meus e respeitáveis parentes, aqui reunidos à sombra do<br />

venerável chefe de nossa família, disse o bacharel fazendo com a<br />

cabeça a vênia do costume ao capitão-mor, que já então se achava<br />

em perfeita diagonal. Ninguém que tenha meditado as cousas do<br />

governo, como elas merecem, desconhecerá a verdade de quanto<br />

expôs nosso primo, Capitão André de Figueiredo, e a urgência do mal<br />

que pede remédio pronto; pois se lhe tardamos com ele, é perder<br />

logo toda esperança de cura.<br />

Foi este o exórdio da arenga que o bacharel trazia preparada para o<br />

caso. Pelo Cosme Borralho, que era da sua roda, tivera ele notícia e<br />

comunicação do manifesto encomendado por André de Figueiredo ao<br />

licenciado Davi de Albuquerque. Atinando desde logo com o<br />

pensamento do primo, e não lhe sofrendo a vaidade levasse outro nos<br />

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