16.04.2013 Views

GUERRA DOS MASCATES JOSÉ DE ALENCAR

GUERRA DOS MASCATES JOSÉ DE ALENCAR

GUERRA DOS MASCATES JOSÉ DE ALENCAR

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

por que era conhecida no Pindo a Senhora D. Severa de Sousa.<br />

Ocupava-se ela com a leitura de seu livro favorito, o Palmeirim de<br />

Inglaterra.<br />

À direita, no longo estrado forrado de panos de arrás com figuras e<br />

ramagens, estão de tarefa as moças da casa e parentas, entre as<br />

quais distingue-se Leonor, pela formosura como pela melancolia; pois<br />

enquanto as outras vão chilreando risos e segredinhos ao ouvido, ela,<br />

de cabeça baixa, absorve-se no seu trabalho.<br />

Um escravo de libré postado em cada porta para qualquer chamado e<br />

o mais que for preciso espera as ordens.<br />

Leonor trabalha em uma touquinha de renda, que destina à neta<br />

recém-nascida de sua velha ama, a Brites. Está agora enfeitando-a de<br />

rosas de maravalhas, e essa ocupação lhe encaminha o espírito para<br />

umas saudades, que ela esconde no refólho d'alma para não nas<br />

adivinharem, e que são menos o recordo de uma ventura fruída do<br />

que a viuvez de uma doce esperança.<br />

Sem que ela se apercebesse, tão distraída estava, começou-lhe o seio<br />

a desafogar em suspiros, e após eles veio um como murmúrio de<br />

intenso queixume que se foi desprendendo a pouco e pouco em suave<br />

e terníssima endeixa. Cantava em voz submissa as coplas de um<br />

romance antigo que lhe trouxera. à memória certa conformidade de<br />

pensamentos:<br />

Filha, filha da minha alma,<br />

Com que te batizaria?<br />

As lágrimas de meus olhos<br />

Te sirvam d'água da pia.<br />

Chamar-te-ei minha Rosa,<br />

Rosa, flor de Alexandria,<br />

Que assim se chamava d'antes<br />

Uma irmã que eu queria.<br />

Aqui a voz feneceu para tornar pouco depois repetindo de outra<br />

cantiga em que então se enleava a fantasia da donzela:<br />

Nada em dor, em dor criada,<br />

Não sei isto onde irá ter.<br />

Vejo-vos, filha, formosa,<br />

Com olhos verdes crescer.<br />

Não era esta graça vossa<br />

Para viver em desterro;<br />

152

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!