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GUERRA DOS MASCATES JOSÉ DE ALENCAR

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- Está bom, Nuno, já você se divertiu com suas chacotas; agora<br />

deixe-me ir.<br />

- Alto lá! Desate os calções.<br />

- Nuno!<br />

- Deixe-se de sestros. Se você não quer que eu, seu amigo, lhe sirva<br />

de enfermeiro, e lhe aplique o emplastro com todo o cuidado, então<br />

deixo-o nas mãos deste machacaz e com ele se avenha.<br />

O Cosme engrolou, sofismou, e remanchou quanto pôde; mas afinal<br />

fazendo boa cara à má fortuna resignou-se a levar a surra de<br />

cansanção, que o Nuno administrou-lhe conscienciosamente.<br />

- Vá consolado, Cosme, que você agora fica são como um pero.<br />

O escrevente fez uma careta de raiva, mas não a viu o Nuno, cuja<br />

atenção nesse momento foi reclamada por clamores que partiam do<br />

lado da povoação. Correu ele à ermida, inquieto acerca da liteira.<br />

Ao chegar à praça a achou cercada por um bando armado; e viu que<br />

uma peleja renhida se travara junto à liteira, onde o Lisardo esgrimia<br />

uma catana com o desespero de um cego. De um salto achou-se o<br />

rapaz ao lado do amigo, pronto a morrer com ele.<br />

Nesse ponto, porém, um cavaleiro que escoltava uma formosa dama<br />

apareceu na praça.<br />

- Que temos? perguntou o cavaleiro com o tom imperioso.<br />

Os assaltantes dominados por aquela voz recuaram, suspendendo o<br />

combate; e as cortinas da liteira abriram-se de repente, mostrando o<br />

lindo rostinho de Marta, amarrotado do susto:<br />

- Primo Vital Rebelo, acuda-nos!<br />

- A menina Marta?<br />

- A própria.<br />

- Que faz por aqui?<br />

- Isso é uma história.<br />

Do como ai se achava o Rebelo, vamos sabê-lo.<br />

Testemunha do insulto que sofrera o governador, Vital depois do<br />

primeiro momento dado à surpresa e desgosto que lhe causava o<br />

triste acontecimento, pensou que seu plano ficaria frustrado se o não<br />

realizasse imediatamente. Correu à sua casa da Boa Vista,, fez<br />

montar a gente que já tinha preparada, e correu a Olinda.<br />

A nota do desacato já ai tinha chegado e a todos deixara atônitos. O<br />

bispo, os principais da nobreza, e entre eles André de Figueiredo,<br />

tinham acudido pressurosos a palácio para visitar o governador e dar<br />

solene testemunho de que não tinham a menor parte no criminoso<br />

intento.<br />

A escolta de Vital Rebelo chegou à Rua de São Bento sem o menor<br />

contratempo. Leonor estava à janela. Vital subiu, arrebatou a esposa<br />

nos braços e desceu à rua. Ai montou-a no palafrém que a esperava,<br />

e partiram de Olinda pelo caminho de dentro para evitar encontros.<br />

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