GUERRA DOS MASCATES JOSÉ DE ALENCAR
GUERRA DOS MASCATES JOSÉ DE ALENCAR
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- Pois a senhora não me deu para a levar? perguntou o escrevente<br />
espantado e metendo a mão no peito da garnacha onde guardara o<br />
papel.<br />
- Dei, sim; mas é que a gente fica sem saber o verso, e depois, como<br />
se há de espalhar?<br />
- Tira-se uma cópia.<br />
Sacou o Pisca-Pisca do bolso da garnacha um desses tinteiros<br />
portáteis, feitos de chifre, como usavam então, e ainda se viam nas<br />
escolas pelos princípios deste século. Consistiam em uma boceta alta,<br />
que tinha no tampo um canudo onde se introduzia a pena para<br />
molhar-lhe os bicos.<br />
Os outros petrechos de escrever, trazia-os também naquele bolso,<br />
que era uma carteira ambulante. Só a pena, aquela faceira pena com<br />
a rama matizada de várias cores, estava ali provisoriamente, pois o<br />
seu lugar era na orelha direita onde fazia as vezes de insígnia ou<br />
bandeira.<br />
Mas tendo de pôr-se à fresca, segundo a versão da Inácia, ele<br />
acomodara a sua inseparável na algibeira.<br />
Sentando-se no poial da janela, com a pena em cruz, e o joelho<br />
levantado para servir-lhe de banca, abriu o Cosme o papel que lhe<br />
dera a Rufina para o ler e copiar. Foi pôr-lhe os olhos e pestanejar de<br />
modo que bem justificava o apelido de Pisca-Pisca.<br />
- O que é? perguntou a Rufina desconfiada.<br />
- Não... não é... não é nada. Está engraçado o remoque!<br />
- Não... acha? Elas vão arrenegar-se! É bem-feito! Para que se<br />
metem?... Repita lá para a Inacinha, que ainda não ouviu!<br />
As duas aplaudiram e comentaram com muitas risadas os versos,<br />
enquanto os copiava o matreiro do Cosme, que tendo conhecido a<br />
letra do Lisardo, ficou-se com o original, dando à Rufina o traslado.<br />
- Por que não leva o seu? perguntou a matrona.<br />
- Podem conhecer-me a letra.<br />
Esse receio não o tinha o Cosme porque dos três caracteres de letra<br />
que ele dava como seus, nenhum empregara na cópia, tendo ao<br />
contrário o cuidado de imitar o do nosso Lisardo, que mal sabia da<br />
tormenta que estava-se armando.<br />
- Ah! outra cousa, moço!... disse de repente a Rufina atalhando a<br />
salda ao Cosme. Quem foi que fez o desaforo daquela trova que você<br />
trouxe?<br />
- Quem... quem... quem... fe... fe... fez... a... a... qua... qua... qua...<br />
- Sim, sim, a quadra! gritou a Senhora Rufina a quem estava<br />
agastando os nervos aquela amolação.<br />
- Não... não sei!<br />
- Por força que há de saber. Você que a trouxe.<br />
- Eu... ju...ju... ju.... eu ju...<br />
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