16.04.2013 Views

GUERRA DOS MASCATES JOSÉ DE ALENCAR

GUERRA DOS MASCATES JOSÉ DE ALENCAR

GUERRA DOS MASCATES JOSÉ DE ALENCAR

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

- Pois a senhora não me deu para a levar? perguntou o escrevente<br />

espantado e metendo a mão no peito da garnacha onde guardara o<br />

papel.<br />

- Dei, sim; mas é que a gente fica sem saber o verso, e depois, como<br />

se há de espalhar?<br />

- Tira-se uma cópia.<br />

Sacou o Pisca-Pisca do bolso da garnacha um desses tinteiros<br />

portáteis, feitos de chifre, como usavam então, e ainda se viam nas<br />

escolas pelos princípios deste século. Consistiam em uma boceta alta,<br />

que tinha no tampo um canudo onde se introduzia a pena para<br />

molhar-lhe os bicos.<br />

Os outros petrechos de escrever, trazia-os também naquele bolso,<br />

que era uma carteira ambulante. Só a pena, aquela faceira pena com<br />

a rama matizada de várias cores, estava ali provisoriamente, pois o<br />

seu lugar era na orelha direita onde fazia as vezes de insígnia ou<br />

bandeira.<br />

Mas tendo de pôr-se à fresca, segundo a versão da Inácia, ele<br />

acomodara a sua inseparável na algibeira.<br />

Sentando-se no poial da janela, com a pena em cruz, e o joelho<br />

levantado para servir-lhe de banca, abriu o Cosme o papel que lhe<br />

dera a Rufina para o ler e copiar. Foi pôr-lhe os olhos e pestanejar de<br />

modo que bem justificava o apelido de Pisca-Pisca.<br />

- O que é? perguntou a Rufina desconfiada.<br />

- Não... não é... não é nada. Está engraçado o remoque!<br />

- Não... acha? Elas vão arrenegar-se! É bem-feito! Para que se<br />

metem?... Repita lá para a Inacinha, que ainda não ouviu!<br />

As duas aplaudiram e comentaram com muitas risadas os versos,<br />

enquanto os copiava o matreiro do Cosme, que tendo conhecido a<br />

letra do Lisardo, ficou-se com o original, dando à Rufina o traslado.<br />

- Por que não leva o seu? perguntou a matrona.<br />

- Podem conhecer-me a letra.<br />

Esse receio não o tinha o Cosme porque dos três caracteres de letra<br />

que ele dava como seus, nenhum empregara na cópia, tendo ao<br />

contrário o cuidado de imitar o do nosso Lisardo, que mal sabia da<br />

tormenta que estava-se armando.<br />

- Ah! outra cousa, moço!... disse de repente a Rufina atalhando a<br />

salda ao Cosme. Quem foi que fez o desaforo daquela trova que você<br />

trouxe?<br />

- Quem... quem... quem... fe... fe... fez... a... a... qua... qua... qua...<br />

- Sim, sim, a quadra! gritou a Senhora Rufina a quem estava<br />

agastando os nervos aquela amolação.<br />

- Não... não sei!<br />

- Por força que há de saber. Você que a trouxe.<br />

- Eu... ju...ju... ju.... eu ju...<br />

150

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!