16.04.2013 Views

GUERRA DOS MASCATES JOSÉ DE ALENCAR

GUERRA DOS MASCATES JOSÉ DE ALENCAR

GUERRA DOS MASCATES JOSÉ DE ALENCAR

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

- Estou vendo, homem, que você não serve para escrivão; gagueja<br />

que não se entende! disse a Rufina em tom decidido.<br />

- Eu não sei, tornou o Cosme, cuja língua desprendeu-se; mas ouvi<br />

dizer que foi um Lisardo de Albertim, um trovista, que é todo lá dos<br />

Cavalcantis.<br />

- Lisardo?... É um camarada do Nuno?<br />

- Isso mesmo!<br />

- Conheço muito! acudiu a Inacinha. Um aluado que anda sempre a<br />

olhar as estrelas! Ele passa por aqui todos os dias com um gibão de<br />

veludo já muito surrado, que perdeu a cor; por sinal tem dois<br />

batoques nos cotovelos. Logo vi que havia de ser um cousa à-toa.<br />

- Pois eu prometo-lhe fazer presente de um gibão novo, mas há de<br />

ser de veludo verde de cansanção, que é mais chibante.<br />

- Ele não fez por mal! observou o Cosme. Tanto que os seus<br />

rendimentos são cá para o Recife, onde está a dama de seus afetos.<br />

- E quem é esta buginica?<br />

- Ele a chama em verso Belisa, que é o anagrama de Isabel.<br />

- A filha da Rosaura do Viana? perguntou a Inacinha.<br />

- Ah! ah!... É a minha afilhada. E ela tem dado confiança a esse<br />

malandro?... Diga-me, diga-me, que lhe quero já negar a bênção.<br />

- Não; eu penso que ela nem sabe! retorquiu o Cosme apalpando no<br />

bolso o papel da redondilha.<br />

E antes que viesse novo aperto, abriu a rótula, e pôs-se a trote.<br />

CAPÍTULO XI<br />

COMO O NUNO FOI ACRESCENTADO <strong>DE</strong> PAJEM A ESCU<strong>DE</strong>IRO, E O<br />

LISARDO REBAIXADO <strong>DE</strong> POETA A VAGABUNDO<br />

A sala principal da casa de André de Figueiredo estão reunidas várias<br />

pessoas.<br />

Da banda fronteira à entrada vê-se D. Lourença Cavalcanti, sentada<br />

em cadeira de espaldar, tendo junto de si um bufete pequeno coberto<br />

de colgadura roxa que arrasta no chão. Aí estão os recados de que<br />

serve-se a dama naquele momento para escrever cartas.<br />

Do outro lado do bufete, a irmã D. Antônia Barbalho, mãe de Leonor,<br />

fia em uma roca de braúna as alvas pastas de algodão que enchem o<br />

cabaz de palha posto a seus pés. Em seu benigno semblante está<br />

pintada a alma tíbia e frouxa, que as irmãs dominam e afeiçoam como<br />

uma cera.<br />

À esquerda, no intervalo das janelas, lá está em tamborete raso, para<br />

se dar ares de donzela, a ninfa olindense, a formosa Clélia, nome este<br />

151

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!