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GUERRA DOS MASCATES JOSÉ DE ALENCAR

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mesmos engonços e geringonças, embora metidas em trajos<br />

diferentes; disso não tem culpa o cronista. Lá se avenham com o<br />

mundo, que é o titereiro-mor de tais bonecos.<br />

O que se tira agora à estampa forma apenas a primeira parte da<br />

crônica, e bem se pode chamar o Prólogo da comédia, que a seu<br />

tempo, quando houver folga e pachorra, também virá a lume.<br />

Tijuca, dezembro de 1870.<br />

S.<br />

NOTA<br />

Sai tardio e já fora de sazão este primeiro volume de uma obra que<br />

podia bem estar a esta hora no rol dos alcaides de livraria.<br />

Tendo entrado nos prelos em 1871, como se vê do frontispício, só<br />

agora 1873 vem a lume, e ainda assim desacompanhado do outro<br />

tomo, que lhe serve de parelha.<br />

A culpa é do autor e ele a confessa contrito.<br />

Poderia alegar em seu favor que logo depois de remetido à tipografia<br />

o original, teve necessidade de ir a Baependi fazer uso das águas de<br />

Caxambu, que lhe eram aconselhadas.<br />

Nem venha o leitor com a sua contrariedade, lembrando que nesse<br />

decurso escrevia ele o Til, para o folhetim da República.<br />

É o Til desses livros que se compõem com material próprio, fornecido<br />

pela imaginação e pela reminiscência; e que portanto se podem<br />

escrever em viagem, sobre a perna, ou num canto da mesa de jantar.<br />

Não sucede o mesmo com um romance histórico, e ainda mais em<br />

nosso país onde as fontes do passado nos ficaram tão escassas, senão<br />

muitas vezes exaustas.<br />

Para decrever a nossa sociedade colonial é necessário reconstrui-la<br />

pelo mesmo processo de que usam os naturalistas com os animais<br />

antediluvianos. De um osso, eles recompõem a carcaça, guiados pela<br />

analogia e pela ciência.<br />

O escritor que no Brasil tenta o romance histórico, há de cometer<br />

antes de tudo essa árdua tarefa de recompor com os fragmentos<br />

catados nos velhos cronistas a colônia portuguesa da América, tal<br />

como ela existiu, a separar-se de dia em dia da mãe pátria, e já<br />

preparando o futuro império.<br />

Imagine o leitor a cópia de livros de que tem de cercar-se o autor; o<br />

isolamento a que deve sujeitar seu espírito a fim de identificá-lo com<br />

esses órgãos do passado; a leitura incessante que lhe é necessária<br />

para saturar-se da antiguidade que se exala dos velhos alfarrábios.<br />

Isto não se faz em viagem, e ainda menos em viagem de terra, pelos<br />

caminhos que temos, e com as pocilgas que às vezes servem de<br />

pouso aí por esse interior.<br />

10

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