GUERRA DOS MASCATES JOSÉ DE ALENCAR
GUERRA DOS MASCATES JOSÉ DE ALENCAR
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ao Padroado de Cristo; Nossa Senhora do Ó e sua corte celeste não<br />
hão de desamparar os defensores da fé e cavaleiros da cristandade.<br />
Se ela suou, a milagrosa imagem, não foi de lástima por nós, mas sim<br />
de pesar e tristeza por ver que se estão abatendo os antigos brios<br />
pernambucanos, por modo tal que já não haverá quem preserve esta<br />
terra de ser presa dos franceses, se, como se afirma e eu creio,<br />
andam eles correndo a costa e preparando-se com grandes empresas<br />
a acometê-la, que, isto dizem, já chegou aviso de Lisboa ao<br />
governador.<br />
Por esta amostra imagine-se o papel importante que devia<br />
representar D. Lourença nas assembléias políticas dos parentes. Se<br />
vivera em nossos dias, com a sua literatura e disposições para a<br />
oratória, com certeza já se teria mandado anunciar a rufos de tambor<br />
para a próxima conferência popular.<br />
- É desenganar, senhora, acudira D. Severa. Enquanto não aparecer<br />
nesta terra de Olinda outra heroína como D. Clara, que arvore a<br />
gineta das damas, os negócios hão de andar baralhados. Mas não<br />
tarda muito que não vejam aparecer aqui mesmo em Olinda uma Ala<br />
das Donzelas com seu capitão, que há de escurecer a fama de Mem<br />
Rodrigues e da sua dos Namorados.<br />
- O capitão, já se sabe quem é? tornou D. Lourença com um sorriso<br />
em que a acompanharam as outras,.<br />
Não lhe respondeu D. Severa, porque voltando-se para chamar o seu<br />
pajem de estrado, o qual como se devem recordar não era outro<br />
senão o brejeiro do Nuno, que de mascatinho virara donzel,<br />
apercebeu-se a dama da ausência do rapaz. Levantou-se logo e foilhe<br />
na pista.<br />
Pouco havia que saíra da sala, e ainda as outras se riam dos<br />
arreganhos marciais da ninfa, quando o lacaio da entrada veio com<br />
recado de segredo a D. Lourença, a qual deitando os olhos para o<br />
corredor, viu aparecer no fio da porta fechada a meio, um pedaço de<br />
cara de fuinha que se havia de jurar ser a do Cosme Borralho.<br />
- Está aí o moço do senhor licenciado Davi de Albuquerque, disse o<br />
escravo à puridade.<br />
- Leva-o para o oratório, que já ai vou, respondeu a dama.<br />
D. Lourença deu tempo a executar-se sua ordem e saindo por uma<br />
porta do interior, dirigiu-se ao lugar indicado que era o mais<br />
reservado e onde se tratavam os negócios de monta.<br />
Entretanto D. Severa corria toda a casa á busca do Nuno, mas não lhe<br />
viu nem a sombra.<br />
O brejeiro do rapaz, que era um azougue, aborrecido da estação a<br />
que o obrigava a D. Severa, em pé atrás de sua cadeira como pajem<br />
de estrado, não perdia ocasião de escafeder-se e ganhar a rua ou<br />
quintal. Naquele dia achando aberta a casa do trem, aproveitou a<br />
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