revista “Querer é Poder” - Instituto Pupilos do Exército
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XXI COLÓQUIO DE HISTÓRIA MILITAR<br />
O Conde reinante Wilhelm de Schaumburg-Lippe:<br />
«Se queres a paz prepara a guerra»<br />
(Si vis pacem para bellum)<br />
Figura 1: O Conde reinante, Wilhelm de Lippe. Desenho atribuí<strong>do</strong> ao Cavaleiro<br />
de Faria. (Manuscrito da Biblioteca da Academia Militar)<br />
A chamada «Guerra <strong>do</strong>s Sete Anos» desenrolou-se entre 1756<br />
e 1763. Este conflito envolveu, mais uma vez, os tradicionais<br />
inimigos (a Inglaterra e a França, apoiada pela Espanha) que<br />
pretendiam o controlo <strong>do</strong> com<strong>é</strong>rcio marítimo nas Índias<br />
Orientais e na Am<strong>é</strong>rica <strong>do</strong> Norte.<br />
Na sequência dessa guerra, deu-se o chama<strong>do</strong> episódio da<br />
batalha naval de Lagos, em 1759, em que os navios franceses<br />
tiveram que fugir perante a esquadra inglesa. Em 1761 já se<br />
tinha assina<strong>do</strong> o Pacto de Família entre Luís XV de França<br />
e Carlos III de Espanha, isto <strong>é</strong>, a aliança entre os diferentes<br />
ramos <strong>do</strong>s Bourbons.<br />
O rei D. Jos<strong>é</strong> I de Portugal, apesar de ser casa<strong>do</strong> com uma<br />
princesa Bourbon, não aderiu a este Pacto, uma vez que era<br />
velho alia<strong>do</strong> de Inglaterra. Assim, em novembro de 1761,<br />
já havia uma certa preocupação com a preparação militar,<br />
visan<strong>do</strong> o conflito. Entretanto, o Governo português tinha<br />
começa<strong>do</strong> a tomar medidas importantes <strong>do</strong> ponto de vista<br />
militar: tinha si<strong>do</strong> obrigatória a completa uniformidade na<br />
ordenança e foram cria<strong>do</strong>s distintivos nos uniformes <strong>do</strong>s<br />
diferentes postos de oficiais. Organizou-se o Esta<strong>do</strong> Maior<br />
ESCRITOS<br />
General, ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> cria<strong>do</strong> o cargo de Marechal <strong>do</strong>s Ex<strong>é</strong>rcitos.<br />
Aumentaram-se os efetivos das unidades de infantaria,<br />
cavalaria e artilharia para 40000 praças (abril de 1762).<br />
Os embaixa<strong>do</strong>res de França e Espanha em Portugal, nos<br />
meses de março e abril de 1762, tentam freneticamente que<br />
Portugal fique <strong>do</strong> la<strong>do</strong> <strong>do</strong>s seus países. Não conseguiram e<br />
aban<strong>do</strong>naram Lisboa. A guerra foi inevitável.<br />
É então que a Espanha, sentin<strong>do</strong>-se ofendida pelo episódio<br />
de Lagos, invade Portugal cerca de três anos depois com um<br />
ex<strong>é</strong>rcito de cerca 40000 homens. Entram por Trás-os-Montes<br />
em maio de 1762. Ocupam Miranda, Bragança, Chaves e<br />
Torre Moncorvo e, continuan<strong>do</strong> em território nacional,<br />
conquistaram Almeida e chegaram a Castelo Branco. Na<br />
sequência desse episódio, Portugal declarou guerra à Espanha<br />
e à França.<br />
Mas… era preciso que a velha aliança com a Inglaterra<br />
desse os seus frutos. Entretanto, tinham chega<strong>do</strong> a Portugal<br />
forças auxiliares britânicas, chefiadas pelo general George<br />
Townshend.<br />
Foi solicitada ajuda militar ao mais alto nível, ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong><br />
escolhi<strong>do</strong>, por sugestão inglesa, o Conde reinante de<br />
Schaumburg Lippe Buckeburg como Comandante <strong>do</strong> Ex<strong>é</strong>rcito<br />
luso-britânico. Mas por quê?<br />
Devi<strong>do</strong> à sua competência militar e ao parentesco familiar com<br />
o Rei George III de Inglaterra, (seria portanto primo) foi indica<strong>do</strong><br />
por este para Marechal General <strong>do</strong> Ex<strong>é</strong>rcito luso-britânico, em<br />
1762, na Guerra <strong>do</strong>s Sete Anos (no último ano da chamada<br />
Guerra Fantástica).<br />
Chamava-se Guerra Fantástica por não ter si<strong>do</strong> travada<br />
nenhuma batalha importante. É interessante saber que a<br />
esta Guerra ainda se deu o nome de Guerra <strong>do</strong> Mirandum ou<br />
<strong>do</strong> Pacto de Família. Foi o nome pelo qual ficou conhecida<br />
a participação de Portugal na Guerra <strong>do</strong>s Sete Anos. (Esta<br />
guerra começara em 1756 e foi at<strong>é</strong> 1763).<br />
Os conflitos sucediam-se uns aos outros. Esta Guerra afinal<br />
continuara a da Sucessão da Áustria de 1641 a 1647.<br />
Chama<strong>do</strong> a Portugal pelo Primeiro Ministro <strong>do</strong> rei D. Jos<strong>é</strong> I,<br />
Sebastião Jos<strong>é</strong> de Carvalho e Melo, Conde de Oeiras, Lippe<br />
chegou a 3 de julho de 1762. Acompanhava-o um grupo de<br />
oficiais (alguns maçons), prussianos, escoceses, ingleses e,<br />
entre eles, o irmão da Rainha de Inglaterra, o Príncipe Carlos<br />
Luís Frederico, Duque de M<strong>é</strong>klemburgo.<br />
Foi incumbi<strong>do</strong> de tentar prover à defesa <strong>do</strong> território<br />
português. As fronteiras não estavam protegidas, as praças-<br />
-fortes estavam sem efetivos. Os oficiais e os solda<strong>do</strong>s<br />
careciam de instrução. A indisciplina era uma constante e já<br />
era tradicional. Os altos postos <strong>do</strong> Ex<strong>é</strong>rcito eram distribuí<strong>do</strong>s<br />
pelas principais famílias da nobreza, não interessan<strong>do</strong> a<br />
formação e a competência militar. Os depósitos de material de<br />
guerra ou estavam praticamente vazios ou quan<strong>do</strong> existiam<br />
eram de material obsoleto.<br />
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