revista “Querer é Poder” - Instituto Pupilos do Exército
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Psiquiatria <strong>do</strong> Kings College, em Londres, foi para o maior centro<br />
mundial de estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> c<strong>é</strong>rebro, em Los Angeles, estudar as ligações<br />
entre neurónios e informações gen<strong>é</strong>ticas para tratar <strong>do</strong>entes<br />
com surto psicótico e, deste mo<strong>do</strong>, tentar prevenir a <strong>do</strong>ença. Um<br />
outro grupo de investiga<strong>do</strong>res internacionais, lidera<strong>do</strong> por Rita<br />
Guerra, identificou já o gene que aumenta o risco da <strong>do</strong>ença<br />
de Alzheimer. Tamb<strong>é</strong>m outro investiga<strong>do</strong>r português estuda<br />
um gel de c<strong>é</strong>lulas estaminais <strong>do</strong> cordão umbilical para ajudar a<br />
cicatrizar feridas crónicas. E investiga<strong>do</strong>res da Universidade Livre<br />
de Bruxelas conseguiram com c<strong>é</strong>lulas estaminais (c<strong>é</strong>lulas que se<br />
dividem e diferenciam noutras c<strong>é</strong>lulas) gerar a primeira tiroide<br />
in vitro, cujas hormonas são essenciais para o crescimento e<br />
maturação <strong>do</strong> esqueleto e <strong>do</strong> sistema nervoso. Na Universidade<br />
da Beira Interior estão, por sua vez, tamb<strong>é</strong>m a desenvolver-<br />
-se novos implantes para regeneração óssea. Por outro la<strong>do</strong>,<br />
foi noticia<strong>do</strong> no princípio de novembro pºpº que cientistas<br />
portugueses <strong>do</strong> <strong>Instituto</strong> de Medicina Molecular identificaram<br />
no genoma humano os genes de AVC. É tambem importante<br />
referir que investiga<strong>do</strong>res da Fundação Champalimaud<br />
desenvolveram um novo equipamento de radioterapia, de <strong>do</strong>se<br />
única, com maior capacidade de precisão que os atuais, e que <strong>é</strong><br />
mesmo considera<strong>do</strong> o mais avança<strong>do</strong> <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Na Escola de<br />
Biotecnologia da Universidade Católica no Porto foi concluí<strong>do</strong><br />
tamb<strong>é</strong>m um estu<strong>do</strong>, que demorou três anos a concluir e já está<br />
devidamente patentea<strong>do</strong>, que dá às espinhas de bacalhau uma<br />
aplicação extraordinariamente inova<strong>do</strong>ra nas áreas da saúde e <strong>do</strong><br />
ambiente. Assim, elas poderão ser utilizadas para próteses ósseas<br />
e dentárias e at<strong>é</strong> para descontaminar a água. Tamb<strong>é</strong>m o Centro<br />
de Neurociência e Biologia Celular da Faculdade de Farmácia<br />
da Universidade de Coimbra criou uma nanopartícula da nova<br />
geração, que patenteou nos EUA, que tem a particularidade<br />
de destruir certo tipo de c<strong>é</strong>lulas cancerígenas bem como os<br />
próprios vasos sanguíneos que alimentam o tumor, o que evita<br />
reincidências. Esta descoberta foi anunciada pelo investiga<strong>do</strong>r<br />
envolvi<strong>do</strong> no projeto, João Nuno Moreira, que resultou de um<br />
trabalho em colaboração com o IPO de Coimbra, a Faculdade<br />
de Farmácia de Lisboa e a Faculdade de Medicina <strong>do</strong> Porto.<br />
Outro feito, extraordinariamente notável, que apresenta um<br />
potencial terapêutico da maior importância foi leva<strong>do</strong> a efeito<br />
pelo <strong>Instituto</strong> de Biologia Molecular e Celular da Universidade<br />
<strong>do</strong> Porto. Uma equipa coordenada por Helder Maiato conseguiu<br />
interferir no processo de divisão celular. Sabe-se que as c<strong>é</strong>lulas<br />
normais têm um número finito de divisões ao contrário da c<strong>é</strong>lula<br />
cancerosa que se divide sempre indiscriminadamente, crescen<strong>do</strong>,<br />
e invadin<strong>do</strong> o tumor outros teci<strong>do</strong>s. A equipa interferiu neste<br />
mecanismo de regulação molecular conseguin<strong>do</strong> que a c<strong>é</strong>lula<br />
cancerosa não pudesse dividir-se, ten<strong>do</strong> assim como destino a<br />
sua própria morte, operan<strong>do</strong>-se esta modificação ou mutação<br />
com uma proteína denominada CLASP2. Deste mo<strong>do</strong> a reação<br />
química da divisão celular de c<strong>é</strong>lulas cancerosas interrompe-<br />
-se ao introduzir-se no próprio tumor c<strong>é</strong>lulas com proteína<br />
mutada pelo que as c<strong>é</strong>lulas cancerosas ao fim de nove horas<br />
suicidam-se. O mist<strong>é</strong>rio resolvi<strong>do</strong> foi desvendar o processo<br />
geneticamente programa<strong>do</strong> de distribuição <strong>do</strong>s cromossomas<br />
na divisão das c<strong>é</strong>lulas cancerosas, num processo conheci<strong>do</strong> por<br />
mitose, impossibilitan<strong>do</strong>-lhes a distribuição equilibrada <strong>do</strong>s seus<br />
24<br />
ESCRITOS<br />
cromossomas pelo que, consequentemente, a c<strong>é</strong>lula cancerosa<br />
morre e acaba a sua proliferação celular.<br />
E nesta longa e incessante caminhada para tentar perceber a<br />
Natureza, passámos por Galileu, Kepler, Leonar<strong>do</strong> Da Vinci,<br />
Newton, Einstein, Marie Curie e tantos e tantos outros cientistas.<br />
Na Gr<strong>é</strong>cia antiga Hipócrates e Galeno, os reputa<strong>do</strong>s pais da<br />
medicina, não sonhavam de to<strong>do</strong> com vacinas, antibióticos,<br />
transfusões e tipos de sangue e outros avanços da medicina,<br />
hoje banais e nem imaginavam mesmo que existissem bact<strong>é</strong>rias<br />
ou vírus. E perante os maravilhosos acontecimentos científicos<br />
atuais, <strong>é</strong> caso mesmo para exclamar como Júlio Verne foi<br />
ultrapassa<strong>do</strong>. Mas devemos reconhecer que da sua imaginação<br />
emergiram at<strong>é</strong> muitas realidades que se vieram a concretizar<br />
bastante mais tarde, no s<strong>é</strong>culo XX, mas que ao tempo eram<br />
apenas fantasias criativas, como por exemplo, o submarino, a<br />
viagem à lua e o aparecimento da televisão. E ocorre-nos referir,<br />
citan<strong>do</strong> Agustina Bessa-Luis, que “a infância vive a realidade<br />
da única forma honesta que <strong>é</strong> tornan<strong>do</strong>-a como uma fantasia”.<br />
E Júlio Verne foi nesse senti<strong>do</strong> um excelente obreiro junto de<br />
muitas gerações. A Volta ao Mun<strong>do</strong> em 80 Dias, Viagem ao<br />
Centro da Terra, Da Terra à Lua, Vinte Mil L<strong>é</strong>guas Submarinas,<br />
são, entre outras, das suas obras mais emblemáticas dadas ao<br />
prelo entre 1863 e 1874. Ora, nem o maior especialista em<br />
inovação e futurologia global faria melhor previsão. Sabe-se que<br />
a competitividade e o progresso da economia global requerem hoje<br />
graus de cultura científica cada vez maiores, pelo que todas estas<br />
descobertas científicas, step by step, concorrem entre si, e integradas<br />
de uma forma harmónica têm, mais ce<strong>do</strong> ou mais tarde, um grande<br />
impacto no progresso da humanidade, no crescimento económico,<br />
e no bem-estar e qualidade de vida. E embora tenha si<strong>do</strong> atrav<strong>é</strong>s<br />
da Filosofia - área de estu<strong>do</strong> de caracter multidisciplinar que<br />
envolve a investigação e reflexão de ideias - que nasceu a Ciência,<br />
estas pareceram por vezes não se acomodar por uma questão de<br />
autonomia e desejo de preponderância. Não obstante, a filosofia<br />
(em torno de cujo eixo giram a lógica, linguística, dial<strong>é</strong>tica, <strong>é</strong>tica,<br />
fenomenologia, hermenêutica, ontologia, a epistemologia, etc.<br />
etc.) tem desenvolvi<strong>do</strong> na Idade Moderna, como outrora, muitas<br />
conceções filosóficas e da<strong>do</strong> contributos para o conhecimento<br />
que têm muda<strong>do</strong> o homem e o mun<strong>do</strong>. E o embate, verifica<strong>do</strong><br />
entre filosofia e ciência, ocorreu ainda mais acentuadamente,<br />
entre a Religião e Ciência. Assim, Descartes ao lutar pela<br />
autonomia <strong>do</strong> pensamento racional perante a f<strong>é</strong>, e a fim de<br />
evitar confrontos já então conheci<strong>do</strong>s, usou o estratagema de<br />
escrever nas Meditações as provas da existência de Deus para<br />
logo a seguir dizer que o Cogito (a Razão) se sustenta por si só.<br />
Mas a liberdade investigativa da ciência teve talvez com Galileu<br />
Galilei, o impedimento mais s<strong>é</strong>rio contra a sua autonomia, devi<strong>do</strong><br />
na <strong>é</strong>poca à postura impositiva da igreja quanto à determinação<br />
sobre o que era ou não verdade. Mas apesar destes diferen<strong>do</strong>s<br />
a afirmação de que a religião vai desaparecer à medida que o<br />
mun<strong>do</strong> se vai tornan<strong>do</strong> mais moderno não passa de uma ilusão<br />
otimista de acad<strong>é</strong>micos ateus, como refere o sociólogo Rodney<br />
Stark no seu recente livro (2011), The Triumph of Chistrianity. E<br />
seja nos tempos que correm ou nas recuadas <strong>é</strong>pocas de Pitágoras<br />
ou de Arquimedes, a essência <strong>do</strong> avanço <strong>do</strong> conhecimento para a<br />
modernidade tem sempre na sua base a curiosidade <strong>do</strong> homem,