UM MUNDO UMA ENERGIA - Edp

novador
ESPÍRITO
O VEÍCULO DO FUTURO
a partir de ferro-velho
O QUINTAL E A VIDA DE SÍLVIO BALHAU, UM REFORMADO DA EDP COM 79 ANOS , CONTINUAM
A DAR FRUTOS. PEDIMOS A ANTÓNIO MARQUES, DA TV ON, QUE O FOSSE VISITAR E NOS
CONTASSE SOBRE O SABER E A CRIATIVIDADE DESTE HOMEM QUE, APESAR DA IDADE, CONTINUA
LIGADO À CORRENTE.
ENTRE LIMOEIROS E LARANJEIRAS CARREGADOS
e um gato que se passeia fugidio, as portas de pequenas
arrecadações poeirentas e com teias de aranha,
abrigam os passatempos do Sr. Balhau. A chuva cai miudinha
e insistente. O Inverno é só mais uma fase da vida,
a vida que a par da família e da arte de saber são os
três grandes amores do Sr. Sílvio Balhau.
O quintal da casa conheceu dias animados; crianças
brincavam, ouvia-se o cacarejar da criação. Veio
a idade, foi-se a saúde e já nem se faz grande arroteio
na terra.
O cansaço causado por uma doença e cirurgia no
coração que funciona com cuidados e menos-mal,
amanhado está agora, orientam-lhe os passatempos
para tarefas que não sejam muito cansativas.
Atrás de cada porta há um posto de rádio amador,
uma serralharia, uma carpintaria… esta última recordando
o honrado ofício de seu pai, a serra eléctrica que
ele próprio construiu, entre correia, motor reaproveitado
e lâmina. O dia cinza e a fraca luz amarelada da
lâmpada deixam uma quase penumbra, na qual surgem
entre os seus dedos dispostos, magros braços de
madeira, encomenda do padre da terra, Taveiro, modelos
para um Cristo inteiro sofrido na cruz.
Dentro da arrecadação defronte, está um exemplar
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acabado das verdadeiras ocupações: as máquinas. Uma
engenhoca pintada de castanho-escuro, as suas iniciais
enlaçadas, o corpo feito de tubos, parte de uma bicicleta,
até que Sílvio Balhau transformou ferro velho numa
máquina de moer café. O pó fino vai caindo, aromatizando
o ar.
Ao lado, a máquina onde picava couves para a criação
e que funciona mal é ligada. As rodas dentadas retiradas
de uma bicicleta, o veio feito de arame de uma
mola, cada máquina parece retirada de um filme “Mad
Max”, feita de pedaços que a civilização rejeitou. E, como
no filme, as peças mexem e giram nas suas imperfeições
aparentemente insustentáveis e picam as folhas
de couve-galega que o Sr. Sílvio vai pondo na calha. Faz
a comutação da maquineta e, agarrando num balde de
milho despeja-o no depósito, saindo abaixo o cereal
triturado com a medida desejada.
É o resultado do trabalho de Sílvio Balhau, chefe de
laboratório de Medidas e Telecomunicações da Região
Centro da EDP e já reformado desde 1992, por motivos
de saúde.
Hoje, passados dezasseis anos sobre a sua passagem
à reforma, a voz embarga-se quando fala com
orgulho da EDP, “Uma empresa muito diferente de
quando a deixei. Hoje é uma grande empresa interna-
cional e tem muito para crescer. Assim, quem esteja à
frente dela consiga levá-la, porque quanto maior é, mais
difícil será governá-la”.
Como mais há para mostrar, devagar mas firme, caminha
até ao telheiro, passando pela máquina de cortar
relva da sua autoria, uma verdadeira escultura de
peças de metal agora ferrugento.
Como se constrói um veículo
do futuro com ferro-velho
A resguardo da chuva pelo telheiro, estão dois… veículos,
o expoente das suas criações. Um triciclo e um
quadriciclo, inteiramente retirados do ferro-velho em
peças que se juntaram ao longo dos meses, principalmente
oriundas de bicicletas, dando origem a veículos
com acelerador, travões, motores, baterias,
piscas, luzes, rádio, assentos tira-