Fernando Pessoa 2.pdf - Webnode
Fernando Pessoa 2.pdf - Webnode
Fernando Pessoa 2.pdf - Webnode
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
III<br />
A Grande Esfinge do Egito sonha pôr este papel dentro...<br />
Escrevo — e ela aparece-me através da minha mão transparente<br />
E ao canto do papel erguem-se as pirâmides...<br />
Escrevo — perturbo-me de ver o bico da minha pena<br />
Ser o perfil do rei Quéops...<br />
De repente paro...<br />
Escureceu tudo... Caio por um abismo feito de tempo...<br />
Estou soterrado sob as pirâmides a escrever versos à luz clara deste<br />
candeeiro<br />
E todo o Egipto me esmaga de alto através dos traços que faço com<br />
a pena...<br />
Ouço a Esfinge rir por dentro<br />
O som da minha pena a correr no papel...<br />
Atravessa o eu não poder vê-la uma mão enorme,<br />
Varre tudo para o canto do teto que fica por detrás de mim,<br />
E sobre o papel onde escrevo, entre ele e a pena que escreve<br />
Jaz o cadáver do rei Quéops, olhando-me com olhos muito<br />
abertos,<br />
E entre os nossos olhares que se cruzam corre o Nilo<br />
E uma alegria de barcos embandeirados erra<br />
Numa diagonal difusa<br />
Entre mim e o que eu penso...<br />
Funerais do rei Quéops em ouro velho e Mim!...<br />
15<br />
III<br />
La Gran Esfinge de Egipto sueña por este papel adentro...<br />
Escribo — y ella se me aparece a través de mi mano transparente<br />
Y en la orilla del papel se yerguen las pirámides...<br />
Escribo — y me perturba ver que el punto de mi pluma<br />
Es el perfil del rey Keops...<br />
De repente me detengo...<br />
Oscureció todo... Caigo en un abismo hecho de tiempo...<br />
Enterrado bajo las pirámides escribo versos a la luz clara de este<br />
candelero<br />
Y todo Egipto me aplasta desde lo alto a través de los trazos que<br />
hago con la pluma...<br />
Oigo a la Esfinge reír por dentro<br />
El sonido de mi pluma corre sobre el papel...<br />
Una mano enorme atraviesa el que yo no puedo verla,<br />
Barre todo hacia el borde del techo que está detrás de mí,<br />
Y sobre el papel donde escribo, entre él y la pluma que escribe,<br />
Yace el cadáver del rey Keops, mirándome con los ojos muy<br />
abiertos,<br />
Y entre nuestras miradas que se cruzan corre el Nilo<br />
Y una alegría de barcos abanderados errando va<br />
En una diagonal difusa<br />
Entre mí y lo que yo pienso...<br />
¡Funerales del rey Keops en oro viejo y Mí!...