17.04.2013 Views

Fernando Pessoa 2.pdf - Webnode

Fernando Pessoa 2.pdf - Webnode

Fernando Pessoa 2.pdf - Webnode

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

¡MAESTRO, mi querido maestro!<br />

¡Corazón de mi cuerpo intelectual y entero!<br />

¡Vida del origen de mi inspiración!<br />

Maestro, ¿qué se hizo de ti en esta forma de vida?<br />

No te importó si morías, si vivirías, ni tú ni nada,<br />

Alma abstracta y visual hasta los huesos,<br />

Atención maravillosa al mundo exterior siempre múltiple,<br />

Refugio de saudades de todos los dioses antiguos,<br />

Espíritu humano de la tierra materna,<br />

Flor encima del diluvio de la inteligencia subjetiva...<br />

¡Maestro, mi maestro!<br />

En la angustia sensacionista de todos los días sentidos,<br />

En la amargura cotidiana de las matemáticas del ser,<br />

Yo, esclavo de todo como un polvo de todos los vientos,<br />

¡Alzo las manos hacia ti, que estás lejos, tan lejos de mí!<br />

¡Mi maestro y mi guía!<br />

A quien ninguna cosa hirió, ni dolió, ni perturbó,<br />

Seguro como un sol haciendo su día involuntariamente,<br />

Natural como un día mostrando todo,<br />

Maestro mío, mi corazón no aprendió tu serenidad.<br />

Mi corazón no aprendió nada.<br />

Mi corazón no es nada,<br />

Mi corazón está perdido.<br />

Maestro, sólo sería como tú si yo hubiera sido tú.<br />

¡Qué triste la gran hora alegre en que primero te oí!<br />

15-4-1928<br />

64<br />

Depois tudo é cansaço neste mundo subjetivado,<br />

Tudo é esforço neste mundo onde se querem coisas,<br />

Tudo é mentira neste mundo onde se pensam coisas<br />

Tudo é outra coisa neste mundo onde tudo se sente.<br />

Depois, tenho sido como um mendigo deixado ao relento<br />

Pela indiferença de toda a vila.<br />

Depois, tenho sido como as ervas arrancadas,<br />

Deixadas aos molhos em alinhamentos sem sentido.<br />

Depois, tenho sido eu, sim eu, por minha desgraça,<br />

E eu, por minha desgraça, não sou eu nem outro nem ninguém.<br />

Depois, mas por que é que ensinaste a clareza da vista,<br />

Se não me podias ensinar a ter a alma com que a ver clara?<br />

Por que é me chamaste para o alto dos montes<br />

Se eu, criança das cidades do vale, não sabia respirar?<br />

Por que é que me deste a tua alma se eu não sabia que fazer dela<br />

Como quem está carregado de ouro num deserto,<br />

Ou canta com voz divina entre ruínas?<br />

Por que é que me acordaste para a sensação e a nova alma,<br />

Se eu não saberei sentir, se a minha alma é de sempre a minha?<br />

Prouvera ao Deus ignoto que eu ficasse sempre aquele<br />

Poeta decadente, estupidamente pretensioso,<br />

Que poderia ao menos vir a agradar,<br />

E não surgisse em mim a pavorosa ciência de ver.<br />

Para que me tornaste eu? Deixasses-me ser humano!<br />

Feliz o homem marçano,<br />

Que tem a sua tarefa quotidiana normal, tão leve ainda que pesada.<br />

Que tem a sua vida usual,<br />

Para quem o prazer é prazer e o recreio é recreio,<br />

Que dorme sono,

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!