BAGDAD Um ferido dá entrada no hospital Scud em direcção ao Kuwait, o que sublinhou mais uma diferença em relação ao conflito de 1991: na primeira Guerra do Golfo tinham sido capazes de enviar mísseis até Israel. Agora, as bombas pouco voaram. Segunda vaga Ao contrário do que sucedeu há 12 anos, desta vez a acção terrestre foi quase simultânea com o início das ope- do seu gabinete, sem ser possível determinar quando as imagens foram captadas. O segundo ataque foi mais intenso do que o bombardeamento que iniciou a operação Liberdade para o Iraque, às 5 e 35, quando nasciam os primeiros raios de sol em Bagdad. Pelo menos um dos mais de 40 impactos que atingiram a cidade foi visível a menos de um quilómetro do mítico Hotel Al Rashid, no centro da capital iraquiana. Esse primeiro ataque durou também cerca de dez minutos e, segundo o Governo iraquiano, atingiu o edifício da rádio e da televisão e um edifício da alfândega, ambos vazios. Também foi destruída a casa onde viviam a mulher de Saddam, Zaida Jeirula, e as três filhas. Mas o Presidente iraquiano e os seus dois filhos, que eram os principais alvos do ataque, terão escapado ilesos, segundo admitem os próprios responsáveis norte-americanos. Entretanto, a Cruz Vermelha Internacional confirmou, em Bagdad, a morte de um civil e ferimentos noutras 14 pessoas. M.R.C. rações aéreas. Menos de 20 horas depois do início do conflito, tropas norteamericanas e britânicas atravessaram a fronteira do Kuwait e instalaram-se vários quilómetros no interior do Iraque. Quase ao mesmo tempo, um novo raide foi lançado sobre Bagdad e, mais uma vez, com uma selecção criteriosa de alvos: edifícios governamentais e palácios presidenciais. Como o primeiro, este ataque foi rápido e quase não houve reacção de defesa por parte dos iraquianos. A táctica engendrada pelos comandos americanos parece, assim, ter como objectivo atingir o adversário em pontos sensíveis e, com isso, desmoralizá- -lo progressivamente, convidando à deserção. Ao fim de um ano a fazer e a refazer planos, o general Tommy Franks, comandante das forças aliadas, parece ter decidido adiar os planos do «big bang» e utilizar a mesma táctica que Muhammad Ali celebrizou nos ringues de boxe: picar como uma abelha e voar como uma borboleta. O primeiro dia de guerra foi assim, em tudo semelhante ao primeiro assalto de um Ali vigoroso, dos tempos em que ainda respondia pelo nome de Cassius Clay: golpes rápidos, curtos e incisivos, em diversas partes do corpo, sempre em movimento e sem dar hipótese de resposta. Falta agora o KO. E o ataque em massa, enorme e devastador que foi sempre prometido pelos militares americanos. A guerra, afinal, ainda mal começou. E ninguém acredita que termine sem o derramento de muito sangue. ■ GUERRA DO GOLFO II EDUARDO LOURENÇO Profetas Os olhos de Ezequiel cegaram. Estamos sem futuro, salvo o da chuva de bombas que a cortina do Bem estende sobre Bagdad. E o mundo. Mas o espectro do profeta bíblico não impressionará o piedoso Presidente dos Estados Unidos. Ele está seriamente convicto que Deus o encarregou de libertar o mundo do monstruoso Saddam Hussein. Sabe do que fala, pois foi ele ou os seus antecessores que o inventaram. Quando a cortina de fogo se extinguir, o que não tardará muito, o mundo não será o mesmo. Hoje começa, a sério, um novo século. Porventura, uma nova era. Qual? A de um tempo político assumido do poder do mais forte sobre o mais fraco. Não é uma novidade. Mas nunca o mais forte foi tão insolente e impunemente forte como esta América que exorciza em Bagdad um medo íntimo e conscientemente cultivado. Esse pânico é, em grande parte, o fruto da sua própria política de hegemonia messiânica sobre o mundo. De aqui em diante, o mundo inteiro, do Alasca à Terra do Fogo, tem o direito, e mesmo o dever, de se considerar ameaçado por um imperialismo sob a bandeira de Deus tal como o fundamentalismo americano o vive e expande. E, mesmo, de entrar em resistência. Felizmente, desse mundo, e em primeiro lugar, faz parte a própria América. Ela acordará mais cedo do que se imagina deste pesadelo, da sua e nossa angústia. É por aí que passa o que neste momento nos resta de esperança. Sem ela, o reino do arbítrio instalar-se-ia sobre o mundo. E, a título póstumo, Adolfo Hitler triunfaria em toda a linha. O que os olhos abertos de Ezequiel não permitirão. VISÃO 21 de Março de 2003 11 REUTERS/GORAN TOMASEVIC
GUERRA DO GOLFO II O segundo ataque das forças americanas contra Bagdad foi muito mais intenso do que o registado na madrugada de 20. Vários edifícios foram atingidos. A grande ofensiva contra a capital iraquiana começou VISÃO /Jonas reker Lago Urmia TURQUIA TURQUIA IRAQUE IRÃO ARÁBIA SAUDITA EGIPTO OMÃ Mossul IÉMEN SUDÃO ZONA DE EXCLUSÃO AÉREA 100 km SÍRIA N PISTAS DE AVIAÇÃO Rio Tigre OLEODUTOS IRÃO Kirkuk PRINCIPAIS CAMPOS DE PETRÓLEO BASES MILITARES IRAQUIANAS Rio Eufrates ÀREA CURDA Anah Tikrit Lago Tharthar
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