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Edição especial - Visão

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GUERRA DO GOLFO II “E aqui vai uma frase de paleio de situação no dito dossier, máí nada”<br />

PROTESTO CONTRA<br />

A GUERRA<br />

Mal foi anunciado<br />

que as tropas<br />

britânicas estavam<br />

prontas a ir para<br />

o Iraque, a reacção<br />

dos londrinos não<br />

se fez esperar<br />

GRÃ-BRETANHA<br />

O futuro de Blair<br />

As próximas semanas decidirão se o primeiro-ministro<br />

sobrevive a Saddam Hussein<br />

Era pegar ou largar. Se o Parlamento<br />

votasse a retirada das tropas<br />

britânicas estacionadas no Iraque<br />

estaria, ao mesmo tempo, a decidir<br />

a saída do seu primeiro-ministro, avisou<br />

Tony Blair quando, na terça-feira,<br />

18, se apresentou aos deputados, pedindo<br />

luz verde para avançar para a guerra,<br />

mas sem o sine qua non que muitos políticos<br />

do seu partido tinham exigido:<br />

uma resolução do Conselho de Segurança<br />

da ONU a sancionar o ataque.<br />

Blair deitou mão a tudo o que pôde.<br />

O artigo do jornal Times sobre a votação<br />

dizia que ele «nunca fez um discurso<br />

mais difícil, nem mais importante nem<br />

melhor» e soubera escolher o tom: dirigira-se<br />

«não à plateia, mas ao coração».<br />

Aparentemente, saiu-se bem. Até uma<br />

das suas colegas de Governo não conseguiu<br />

conter as lágrimas, emocionada,<br />

quando o ouvia.<br />

«Quem irá festejar e quem irá chorar,<br />

se retirarmos as nossas tropas?», perguntou<br />

aos deputados. No final, fizeram-se<br />

as contas e o pior tinha passado:<br />

ao contrário do que previam alguns analistas,<br />

não ficara dependente dos conservadores<br />

para atacar o Iraque. É verdade<br />

que 139 trabalhistas não foram sensíveis<br />

aos seus argumentos e votaram contra,<br />

entre eles 17 que, por sinal, até tinham<br />

estado a seu lado nos debates anteriores.<br />

Mas a inversa também foi verdadeira:<br />

94<br />

conseguiu recuperar alguns dos seus críticos.<br />

Por agora, a situação estava salva.<br />

Mais a mais, Blair entrara no Parlamento<br />

já com uma baixa, apesar de o<br />

ataque ainda não ter começado. O ministro<br />

dos Assuntos Parlamentares, Robin<br />

Cook, juntara-se aos outros membros<br />

do Governo que decidiram demitir-<br />

-se por causa do apoio da Grã-Bretanha<br />

a este ataque. Foi uma saída que, segundo<br />

a imprensa britânica, teve «dignidade<br />

e força destrutiva». Mas não feriu mortalmente<br />

o primeiro-ministro.<br />

Três horas antes da votação, já o Ministério<br />

do Interior se antecipara, colocando<br />

na sua página da Internet instruções<br />

aos britânicos sobre o que deviam<br />

ter em casa, como prevenção para a hipótese<br />

de um ataque terrorista. Precisariam<br />

de uma lanterna, algumas latas de<br />

comida, garrafas de água e cobertores.<br />

As recomendações ficaram bem aquém<br />

das que receberam os cidadãos<br />

dos Estados Unidos.<br />

Aí, o Governo elaborou<br />

uma brochura de<br />

56 páginas, com o título<br />

Estão prontos? E mesmo<br />

os que não estivessem<br />

deveriam passar a ter à<br />

mão não só víveres para<br />

três dias, como sacos-cama,<br />

rádios de pilhas e até<br />

T-shirts de algodão que<br />

REUTERS/TOBY MELVILLE<br />

possam transformar-se em máscaras de<br />

gás improvisadas. Em Londres, não só<br />

as instruções foram menos drásticas, como<br />

até teve que ficar a aguardar para<br />

outro dia o simulacro de atentado ao<br />

Metro, pois a polícia da capital tinha tarefas<br />

de segurança mais urgentes.<br />

No dia seguinte à votação, Blair apareceu<br />

de surpresa numa reunião do grupo<br />

parlamentar do seu partido para tentar<br />

minorar os estragos. Garantiu que,<br />

desta vez, e ao contrário da Guerra do<br />

Golfo, só serão atacadas as instalações<br />

militares e os edifícios do Governo.<br />

E, num gesto de boa vontade para com<br />

os seus dissidentes, nomeou até uma das<br />

suas colegas mais críticas, Clare Short,<br />

para o gabinete <strong>especial</strong> que criou para<br />

a guerra ao Iraque.<br />

Nas próximas semanas a evolução<br />

dos ataques irá, certamente, voltar a levá-lo<br />

ao Parlamento. E terá de, de novo,<br />

fazer contas. Além disso, corre o risco<br />

de a moda da rebeldia que atingiu a sua<br />

bancada a propósito do Iraque venha a<br />

pegar, mesmo para questões internas e,<br />

aparentemente, bem mais pacíficas.<br />

A próxima lei a ser votada será a que<br />

contém um novo modelo de gestão hospitalar.<br />

Uma centena de trabalhistas<br />

anunciaram já que são contra. ■<br />

TONY BLAIR<br />

No Parlamento,<br />

dirigiu-se «não<br />

à plateia, mas<br />

ao coração»,<br />

escreveu-se<br />

no jornal Times<br />

REUTERS/PAUL MCERLANE

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