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Edição especial - Visão

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JORGE SAMPAIO<br />

Unidade na diversidade<br />

Na Declaração dirigida ao País, às 20 e 30 do<br />

último dia 19, após a reunião do Conselho de<br />

Estado, o Presidente da República, Jorge Sampaio,<br />

assumiu divergências com o primeiro-<br />

-ministro, Durão Barroso, puxou dos galões ao<br />

deixar subentender que impusera ao Governo<br />

a não participação de militares portugueses<br />

no conflito e dirigiu um forte apelo à «unidade<br />

nacional». Eis os temas-chave dessa Declaração,<br />

na qual evitou a polémica acerca do<br />

fundamento jurídico para a prestação de facilidades<br />

na Base das Lajes.<br />

Guerra<br />

«A guerra deve ser sempre um último recurso,<br />

só surgindo como admissível uma<br />

vez esgotados todos os meios políticos para<br />

a evitar. Por isso, só é legítima, face ao<br />

Direito Internacional, nos casos claramente<br />

tipificados na Carta das Nações Unidas.»<br />

Regime de Saddam<br />

«Tal [o facto de a guerra ser o último recurso]<br />

não significa, como é óbvio, qualquer complacência<br />

com o regime iraquiano, que tem uma<br />

longa e deplorável história de actuações atentatórias<br />

à paz e à segurança internacionais,<br />

de flagrante desrespeito pelos direitos humanos<br />

e de desafio à autoridade do Conselho de<br />

Segurança. É obrigação do Iraque respeitar<br />

escrupulosamente não apenas a letra, como o<br />

espírito das resoluções das Nações Unidas,<br />

procedendo a um desarmamento completo e<br />

abstendo-se de manobras dilatórias.»<br />

Nações Unidas<br />

«Defendi sempre que seria necessário esgotar<br />

os caminhos pacíficos de solução, cabendo<br />

ao Conselho de Segurança, e só a<br />

este, decidir as opções a tomar, uma vez<br />

avaliado o trabalho dos inspectores. (...) É<br />

necessário, tão cedo quanto possível, que<br />

as Nações Unidas reassumam o papel central<br />

que lhes cabe como ponto de referência<br />

indispensável para as questões relativas<br />

à paz e à segurança mundiais.»<br />

plano militar, ficou-se pela cedência de<br />

facilidades na Base das Lajes. Combates,<br />

só pela televisão. Como milhares de portugueses,<br />

também Jorge Sampaio seguiu<br />

o início da ofensiva, na noite de 19 para<br />

20, na sua residência particular, depois<br />

de já conhecer o texto da declaração<br />

proferida mais tarde pelo primeiro-ministro.<br />

Durante a tarde, o Presidente da<br />

Constituição<br />

«É esta [a decisão do Conselho de Segurança,<br />

uma vez avaliado o trabalho dos<br />

inspectores], inquestionavelmente, a via<br />

que respeita a Carta das Nações Unidas e<br />

o Direito Internacional, que corresponde à<br />

tradição jurídico-cultural portuguesa reflectida<br />

na Constituição, e a que mais adequadamente<br />

corresponde aos interesses de um<br />

Estado como o nosso, proporcionando-lhe<br />

o sistema legal para defesa da sua soberania<br />

e para a regulação dos seus relacionamentos<br />

internacionais.»<br />

Forças Armadas Portuguesas<br />

«Tendo em conta a inexistência de um<br />

mandato expresso das Nações Unidas, as<br />

Forças Armadas Portuguesas não participarão<br />

neste conflito, não colaborarão nele,<br />

nem Portugal fará parte da coligação militar<br />

que se criar. Foi esta a minha posição,<br />

desde a primeira hora, para o caso de não<br />

haver uma resolução específica do Conselho<br />

de Segurança.»<br />

Base das Lajes<br />

«[Sem mencionar a Base das Lajes] Prestaremos<br />

aos nossos aliados facilidades de<br />

trânsito, à semelhança de outros países europeus,<br />

alguns dos quais têm expressado,<br />

aliás, fortes reservas a uma acção militar<br />

contra o Iraque.»<br />

O papel do Presidente<br />

«Foi este [não participação das Forças Armadas<br />

e cedência das Lajes] o entendimento que<br />

estabeleci com o Senhor Primeiro-Ministro.<br />

Outra posição do País não teria sido, para<br />

mim, aceitável. Com a legitimidade que me<br />

advém da eleição directa, compete-me resolver<br />

divergências ou conflitos institucionais<br />

quando surjam. Não fui eleito para me limitar<br />

a opinar sobre eles. Fui eleito para encontrar<br />

soluções, para estimular e construir entendimentos<br />

que assegurem, em circunstâncias como<br />

esta, a unidade nacional.»<br />

República ouviu o Conselho de Estado,<br />

ao longo de quatro horas. Dos 18 conselheiros,<br />

só não estiveram presentes Alberto<br />

João Jardim e José Manuel Galvão<br />

Teles. Devido a compromissos internacionais,<br />

Ferro Rodrigues e Vítor Constâncio<br />

abandonaram a sessão antes do<br />

seu termo. Ao que a VISÃO apurou, a<br />

reunião não produziu novidades de<br />

GUERRA DO GOLFO II<br />

Relação transatlântica<br />

«A via de consenso (...) teria sido o caminho<br />

desejável para preservar a unidade da<br />

Europa e da Aliança Atlântica. (...) Será necessário<br />

determinação para ultrapassar [as<br />

divisões políticas provocadas por esta crise],<br />

quer no plano europeu quer no domínio<br />

do relacionamento transatlântico, dois<br />

pilares afinal indispensáveis para – num<br />

quadro de recíproca confiança, de efectiva<br />

cooperação e de respeito mútuo – se defender<br />

o progresso e a estabilidade internacional.»<br />

Europa<br />

«A Europa tem que refazer a sua unidade,<br />

reafirmar com força um projecto comum,<br />

avançar nos caminhos da sua integração,<br />

reforçar a sua capacidade de afirmação<br />

externa.»<br />

P.V.<br />

monta quanto às posições conhecidas.<br />

Na quinta-feira, 20, Jorge Sampaio<br />

cumpriu a agenda prevista, tendo feito<br />

uma declaração de circunstância, na visita<br />

ao Grande Oriente Lusitano, na<br />

qual se dirigiu aos maçons: «Partilho<br />

das vossas preocupações pela hora difícil<br />

que vivemos e perfilho a inspiração<br />

humanista com que encarais a cons-<br />

VISÃO 21 de Março de 2003 79<br />

LUÍS BARRA<br />

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