Clique aqui para baixar o texto completo - Programa de Pós ...

Vale destacar ainda que não apenas a boa qualidade da mão-de-obra brasileira surpreendeu os
patrões do setor automotivo. Na década de 1970, mais de 140 mil trabalhadores do ABC
paulista, representados pelo Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e
Diadema, realizaram greves e paralisações, principalmente nos anos de 1978, 1979 e 1980
que mudaram os rumos do sindicalismo brasileiro. De acordo com Jácome (1997), esse
movimento trazia à ordem do dia novas demandas, como a crítica à estrutura sindical
corporativista; a defesa da livre negociação entre patrões e empregados sem a interferência
estatal; do contrato coletivo de trabalho e a tentativa de fortalecimento do movimento de
trabalhadores através da organização a partir da base, marcando dessa forma o surgimento de
uma nova praxis sindical.
A ruptura dessa classe trabalhadora, fruto da industrialização do pós-64, com a
herança do populismo é bastante significativa. Há um deslocamento da questão
nacional para os problemas do cotidiano fabril e, ao mesmo tempo, uma associação
entre a luta sindical e a luta por direitos sociais e políticos. Nesse aspecto, uma
característica fundamental desse movimento operário emergente foi, por um lado, a
sua localização no âmbito da produção, trazendo à superfície temas que davam conta
do ambiente de trabalho e, de outro, sua vinculação com o processo de
democratização e de constituição da cidadania. Esse novo sindicalismo é expressão,
em um primeiro momento, daqueles trabalhadores que estão nas indústrias
automobilísticas do ABC paulista tendo à frente o Sindicato dos Metalúrgicos de
São Bernardo do Campo e Diadema. (JÁCOME, 1997, p. 238).
Uma vez consolidado, o setor automotivo passou a apresentar, no balanço final, ao longo das
décadas de 1960 e 1970 altos índices de crescimento, apesar de alguns momentos de
instabilidade e queda nas vendas. No entanto, nos anos 1980, o setor foi atingido por uma
forte crise, cujos principais elementos encontravam-se na retração do consumo, nas baixas
taxas de crescimento, nas altas taxas de inflação e no estrangulamento das contas externas. A
saída dessa crise, pelo menos para a indústria automobilística brasileira, passava por medidas
que viessem proporcionar mais competitividade às montadoras instaladas no país, de forma a
possibilitar, dentre outros fatores, um aumento significativo no volume de carros exportados.
Vale destacar que não era apenas a indústria automotiva brasileira que atravessava um
momento difícil naquele período, visto que já na década de 1970 as montadoras americanas e
européias começavam a sentir os efeitos da concorrência com as montadoras japonesas, que
vinham ano a ano conquistando crescentes parcelas do mercado automotivo mundial. Aliás,
nesse período, o capitalismo, em razão de uma crise que começou a mostrar os seus primeiros
sinais no final da década de 1960, também passava por mudanças substanciais que, ao serem
implementadas, tiveram efeitos significativos na forma como agentes econômicos e políticos
31