Academia Espírito-santense de Letras - Instituto Sincades
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Ato ou efeito <strong>de</strong> ler. 2. Arte <strong>de</strong> ler. 3. Hábito <strong>de</strong> ler. 4. Aquilo que se lê. 5. Que se lê, consi<strong>de</strong>rado<br />
em conjunto. 6. Arte <strong>de</strong> <strong>de</strong>cifrar e fixar um texto <strong>de</strong> autor, segundo <strong>de</strong>terminado critério. (Dicionário<br />
do Aurélio, p. 829). Po<strong>de</strong>-se observar, nos dois conceitos, tanto <strong>de</strong> leitor quanto <strong>de</strong> leitura,<br />
a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> ação, continuida<strong>de</strong>, hábito, formação. Tanto o sufixo ‘or’, do substantivo e do adjetivo<br />
“ledor/leitor” quanto o sufixo ‘ura’ indicam, em língua portuguesa, um agente e uma ação. Portanto,<br />
estamos falando <strong>de</strong> um “leitor i<strong>de</strong>al”, aquele que, segundo W. Iser, ‘<strong>de</strong>veria ter o mesmo<br />
código que o autor” ou aquele que “<strong>de</strong>veria ser capaz <strong>de</strong> realizar na leitura todo o potencial <strong>de</strong><br />
sentido do texto ficcional” (ISER, W. O ato da leitura. Uma teoria do efeito estético. Vol. 1. São<br />
Paulo: Ed. 34, 1996, p. 65).<br />
No entanto, a história da recepção dos textos nos revela que a recepção do texto escrito,<br />
verbal ou visual, literário ou não, se atualiza <strong>de</strong> maneiras muito diferentes. Não é possível, em<br />
um só momento, produzir-se toda a diversida<strong>de</strong> das possíveis significações <strong>de</strong> um texto, já que<br />
os sentidos <strong>de</strong> um texto po<strong>de</strong>m ser realizados sucessivamente, em diferentes leituras e em diferentes<br />
momentos do processo <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> um leitor.<br />
Na relação tradicional autor/texto/leitor, o autor projetava uma imagem <strong>de</strong> si próprio e<br />
a duplicava no leitor. Esse tornava-se o ‘alter ego’ do emissor textual, a partir <strong>de</strong> sinais retóricos<br />
que orientavam a reconstrução do texto conforme o <strong>de</strong>sejo ou a intenção do autor ou <strong>de</strong> sua<br />
i<strong>de</strong>ologia. Uma leitura, ou recepção, bem sucedida previa consenso entre duas instâncias, a <strong>de</strong><br />
produção e a <strong>de</strong> recepção do texto literário. Esse tipo <strong>de</strong> figura <strong>de</strong> leitor supunha um sentido in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte,<br />
exemplar, pré-concebido da obra literária e uma atitu<strong>de</strong> contemplativa, receptiva,<br />
alienada, passiva do leitor em relação ao sentido formulado pelo texto.<br />
Também o conceito <strong>de</strong> “escritor” ou “autor” tem sofrido diferentes variações, no tempo e no<br />
espaço. Do antigo “escriba”, doutor da lei, entre os ju<strong>de</strong>us, a funcionário do faraó, entre os egípcios,<br />
ao “copista” dos textos manuscritos, na Ida<strong>de</strong> Média; do “autor oral”, da Ida<strong>de</strong> Média, ao “autor<br />
mo<strong>de</strong>rno”, surgido com a edição impressa, do conceito <strong>de</strong> “direito autoral”, consagrado a partir<br />
do século XIX, a figura do “escritor profissional”, liberal, ao conceito atual, pós-mo<strong>de</strong>rno, <strong>de</strong> “morte<br />
do autor”, posto que não existe o “sujeito”, segundo FOUCAULT, muitos caminhos foram trilhados.<br />
Até a Ida<strong>de</strong> Média, predominou o conceito “divino” <strong>de</strong> escrita baseada na inspiração. O<br />
escritor era o escriba <strong>de</strong> uma “Palavra” que não era <strong>de</strong>le, pois vinha <strong>de</strong> outro lugar. Da Ida<strong>de</strong><br />
Média à Mo<strong>de</strong>rna, criou-se o conceito <strong>de</strong> originalida<strong>de</strong>, em que “escritores” são os que compõem<br />
uma obra, original, fruto <strong>de</strong> seu trabalho e <strong>de</strong> sua criação. O inglês faz a distinção entre “writer”,<br />
o que escreve alguma coisa, e “author”, aquele cujo nome próprio dá i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e autorida<strong>de</strong><br />
ao texto. Também o francês distingue o “écrivain” do “auter”, diferenciando o que escreveu um<br />
texto que permanece manuscrito, sem circulação, do que publicou obras impressas.<br />
Com a Pós-Mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, difundiu-se o conceito <strong>de</strong> “morte do autor” e a ascensão, ou a<br />
revitalização, do conceito <strong>de</strong> “leitor”. Sabe-se, hoje, que a leitura é sempre apropriação, invenção,<br />
produção <strong>de</strong> significados novos em diálogos entre e intratextos.<br />
Segundo Michel <strong>de</strong> Certeau, “o leitor é um caçador que percorre terras alheias”. Apreendido<br />
pela leitura, o texto, esse tecido <strong>de</strong> significados, não tem, exclusivamente, o sentido que<br />
lhe atribui seu autor, seu editor ou seus analistas ou apresentadores. O conceito <strong>de</strong> leitura atual<br />
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