Academia Espírito-santense de Letras - Instituto Sincades
Academia Espírito-santense de Letras - Instituto Sincades
Academia Espírito-santense de Letras - Instituto Sincades
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
e meio cruel, vá lá! Mas... quem não tem <strong>de</strong>feito? Até mesmo Capitu, com seus “olhos <strong>de</strong> cigana<br />
oblíqua e dissimulada”... mas esse daí é o Machado <strong>de</strong> Assis, outro camarada, que, com seus<br />
tipos bem cariocas, me fez rir um bocado: Conselheiro Aires, os gêmeos Pedro e Paulo, Simão<br />
Bacamarte, Bentinho... todos eles me permitiram conhecer, <strong>de</strong> uma maneira ou <strong>de</strong> outra, os<br />
matizes da natureza humana, pelos olhos do bruxo do Cosme Velho.<br />
Cansado <strong>de</strong> ficar apenas em território nacional, resolvi arriscar e, já seguro no francês,<br />
minha língua preferida, até hoje, conheci o universo <strong>de</strong> um sujeito que, junto com Alencar, divi<strong>de</strong><br />
o panteão dos meus autores preferidos. Seu nome: Alexandre Dumas, o pai. Quem nunca<br />
ouviu falar <strong>de</strong> Edmond Dantès, o Con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Monte-Cristo? Deus! Foi outro sofrimento, vê-lo<br />
aprisionado no castelo da ilha <strong>de</strong> If, pelo maldito Danglars, impedido <strong>de</strong> se casar com a linda<br />
Mercedès... Penei horrores, acompanhando a fuga <strong>de</strong> Dantès e seu plano <strong>de</strong> vingança. E Dumas,<br />
hábil escritor, me levou até a última página, <strong>de</strong>sesperadamente. Não, o final eu não conto, amigo<br />
leitor... quer saber como a história termina? Leia o livro e <strong>de</strong>ixe-se levar pelos costumes do<br />
sul <strong>de</strong> uma França do século XIX, com seus marinheiros, piratas e conspiradores. E, se quiser ir<br />
mais longe, leia “Os Três Mosqueteiros”, do mesmo autor. Afinal, quem nunca quis ser <strong>de</strong>stemido<br />
como Dartagnan?<br />
Mas não foram apenas as gran<strong>de</strong>s aventuras que me fascinaram: os casos do coração<br />
também, como o da polêmica Madame Bovary. O clássico <strong>de</strong> Gustave Flaubert me fez sentir<br />
vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> entrar na história e tentar impedir Emma <strong>de</strong> buscar suas aventuras, sobretudo com<br />
Rodolphe. Aliás, quis muito dar uns conselhos também a Frédéric Moreau, para esquecer Marie<br />
Arnoux, em “A Educação Sentimental”; ou a Julien Sorel, para que ele largasse a Madame <strong>de</strong><br />
Rênal, em “O Vermelho e o Negro”, este, <strong>de</strong> Stendhal. Mas, se isso acontecesse, nós não teríamos<br />
esses romances, não é mesmo? Afinal, o que seria da Literatura sem as gran<strong>de</strong>s paixões?<br />
Viajei também por outros países, outras culturas e outras línguas: fiquei impressionado<br />
com o Inferno <strong>de</strong> Dante e, como o poeta, preferi ir para o céu (mas, por enquanto, está bom aqui<br />
na Terra, mesmo!); já formado em Direito, revoltei-me com o sumário processo <strong>de</strong> Josef K., <strong>de</strong><br />
Kafka, sem direito a contraditório e ampla <strong>de</strong>fesa (e o pior, sem qualquer tipo <strong>de</strong> acusação!);<br />
fiquei triste com a história <strong>de</strong> Pirrip, em “Gran<strong>de</strong>s Esperanças”, <strong>de</strong> Dickens e impressionado<br />
com o diabolismo <strong>de</strong> Dorian Grey, o homem que nunca envelhecia e que pagou um preço caro<br />
por isso (nessas épocas <strong>de</strong> culto exacerbado ao corpo, <strong>de</strong>veria haver um exemplar do romance<br />
em todas as aca<strong>de</strong>mias <strong>de</strong> ginástica). Enfim, viajei pelo Brasil, pela França, pela Itália, pela Inglaterra,<br />
República Tcheca, Alemanha, Argentina, Chile, Estados Unidos e, quando fui a alguns<br />
<strong>de</strong>sses lugares – ou conheci gente <strong>de</strong>sses países – era como se já tivesse ido lá, há muito tempo.<br />
E tudo isso eu <strong>de</strong>vo à leitura, que me proporcionou viajar sem sair do lugar, e conhecer épocas,<br />
costumes e línguas da forma mais barata que existe.<br />
| 48