Academia Espírito-santense de Letras - Instituto Sincades
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Mas que continua ainda atravessado em nossas gargantas através <strong>de</strong> gerações. Um grito<br />
que ultrapassou o tempo e a história. Os artistas <strong>de</strong> vanguarda, em suas diferentes correntes,<br />
dão o seu grito e mudam o já conhecido, <strong>de</strong>rrubando paradigmas e fazendo surgir um conceito<br />
novo <strong>de</strong> arte. Edvard Munch, 1863 - pintor norueguês, um dos precursores do expressionismo<br />
alemão, na sua pintura famosa, “O Grito”, retrata uma figura “andrógina” ou “humana retorcida”<br />
no momento <strong>de</strong> sua maior e profunda angústia, em <strong>de</strong>sespero existencial. Será que está tão<br />
distante essa angústia <strong>de</strong> nós, do séc. XXI?<br />
Na história do nosso Brasil, há poucos séculos atrás, D. Pedro I <strong>de</strong>u o seu grito <strong>de</strong> In<strong>de</strong>pendência,<br />
e o nosso país se tornou livre <strong>de</strong> Portugal. Mas, em muitas situações, ainda hoje<br />
continuamos presos, “<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes” <strong>de</strong> um sistema que nos faz calar muitas vezes. E assim, a<br />
nossa indignação cresce a cada revelação, e com isso, nosso povo vai sobrevivendo com poucos<br />
gritos, sem gestos e ações <strong>de</strong>vidas.<br />
A artista Simone, na sua exposição, no seu outdoor, tentou colocar para fora, com as<br />
suas fotos reveladas, o nosso subconsciente; o nosso grito interno e a nossa expressão viva.<br />
Muitos dos personagens escolhidos por ela se perceberam suas próprias cobaias, pois ali no<br />
trabalho <strong>de</strong> campo tiveram suas vivências, suas “catarses” captadas pela lente da artista. Com<br />
isso, conseguiram no seu particular movimento facial reconhecer seus diferentes estágios <strong>de</strong><br />
gritos.<br />
Na revelação, isto é, na exposição da arte <strong>de</strong> Simone, po<strong>de</strong>-se escutar os gritos, nos “clicks”<br />
da artista, e na união <strong>de</strong>les ela conseguiu o grito universal. No momento em que ela tirou do<br />
foco algumas imagens <strong>de</strong> rostos em expressões <strong>de</strong> grito, e as revelou distorcidas, Simone tenta<br />
resgatar Munch e faz nessa hora a ponte com todos os nossos antigos gritos, conseguindo ir até<br />
aos nossos ancestrais. Ela com sua arte trouxe para nós, a história das cavernas quando eles<br />
ainda viviam em grupos...<br />
Em 2005, eu mesma escrevi sobre a exposição da artista, e hoje novamente estou numa<br />
segunda leitura captada pela lente <strong>de</strong>la. No intuito <strong>de</strong> me aprofundar mais sobre o comportamento<br />
coletivo, percebi que vivemos numa socieda<strong>de</strong> on<strong>de</strong> há poucos gritos, unidos a milhares<br />
<strong>de</strong> expressões <strong>de</strong> espanto diante da vida que nos é revelada ainda em preto e branco.<br />
A arte, um dia, já registrou intenções, intuições e i<strong>de</strong>ias. Ela já se preocupou com a perspectiva<br />
e já impressionou a muitos. Surpreen<strong>de</strong>u a outros tantos, retratando a natureza em<br />
cones e cilindros. Já abusou dos movimentos e, em outra época, negou toda a i<strong>de</strong>ologia do passado.<br />
Já supervalorizou o real e agora na mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, como ela se expressa?<br />
Com muitas intervenções, nos conectando a tudo e a todos em um mesmo instante,<br />
nos levando em tempos diferentes e a lugares diversos, mesmo estando parados no aqui agora,<br />
no presente.<br />
A nossa socieda<strong>de</strong> olha muito para o futuro, e se vai ao passado, muitas vezes o faz apenas<br />
para registro , sem se preocupar em perceber o ocorrido. Precisamos voltar às nossas origens,<br />
reconhecer a nossa natureza, reapren<strong>de</strong>r a andar pelas matas, a<strong>de</strong>ntrar em rios, subir e <strong>de</strong>scer<br />
montes, <strong>de</strong>itar na terra, reconhecer as diferentes estações, enxergar o sol e a lua, perceber o semelhante<br />
e, quem sabe, assim nos conectaríamos melhor com tudo.