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Academia Espírito-santense de Letras - Instituto Sincades

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o que chamamos folclore, lenda, chiste, até as formas mais complexas e difíceis da produção<br />

escrita das gran<strong>de</strong>s civilizações”. Nesse aspecto, a literatura, em seu sentido amplo, é uma manifestação<br />

universal <strong>de</strong> todos os homens, em todas as épocas.<br />

Antonio Candido compara a Literatura ao sonho e ao <strong>de</strong>vaneio, necessida<strong>de</strong>s vitais do<br />

homem, e afirma ser a Literatura “o sonho acordado das civilizações”. Por isso, assim como não<br />

é possível haver equilíbrio psíquico sem o sonho, também não há equilíbrio social sem a literatura.<br />

Mais ainda, <strong>de</strong>staca o mestre que a Literatura é fator indispensável <strong>de</strong> humanização e<br />

confirma o homem na sua humanida<strong>de</strong>.<br />

Ítalo Calvino, em Seis propostas para o próximo milênio, advoga para a imortalida<strong>de</strong><br />

das artes e mais especificamente, da Literatura, as seguintes características: leveza, rapi<strong>de</strong>z,<br />

visibilida<strong>de</strong>, exatidão, multiplicida<strong>de</strong> e consistência. A elas, eu incluiria “Humanização”. Sartre,<br />

em seu clássico Que é Literatura? afirma que “Um dos principais motivos da criação artística é<br />

certamente a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> nos sentirmos essenciais em relação ao mundo”. Por isso, ela é, ao<br />

mesmo tempo, uma manifestação individual e social <strong>de</strong> humanida<strong>de</strong>.<br />

Neste século XXI, o que sobreviverá? Quem sabe virá um novo Iluminismo, uma volta ao<br />

Racional e ao Humanismo. Após um século que se extinguiu com a coisificação do homem, e<br />

caberia citar, aqui, Drummond, com seu poema “Eu-etiqueta”, <strong>de</strong>verá o homem retomar, para<br />

sobreviver, os princípios renascentistas em sua busca do Humanismo. Se o século XX foi, sobretudo<br />

em sua 2a meta<strong>de</strong>, um retroce<strong>de</strong>r à Ida<strong>de</strong> Média (Tuchman) ou a um Neobarroco (Severo<br />

Sarduy ou Omar Calabrese), <strong>de</strong>verá ter o XXI, era <strong>de</strong> Aquarius, uma conciliação da racionalização<br />

progressiva da vida e dos valores humanísticos. Ou,então,não sobreviveremos.<br />

Suponho até que esse processo já se encontre <strong>de</strong>lineado na Literatura <strong>de</strong>stes últimos<br />

anos. Vejo, por exemplo, no diálogo da Literatura com a História, sobretudo a partir dos anos oitenta,<br />

uma ficção que ilumina a História, parodiando-a, confirmando o que Walter Benjamin nos<br />

propusera, em seu texto clássico: “A história é objeto <strong>de</strong> uma construção cujo lugar não é o tempo<br />

homogêneo e vazio, mas um tempo saturado <strong>de</strong> “agoras”. Autores contemporâneos estabelecem<br />

um olhar crítico e questionador do tempo histórico, usando o texto literário para iluminá-lo.<br />

Outro aspecto que vejo como antece<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> um provável Humanismo futuro, já presente<br />

em dias atuais, é a questão do multiculturalismo, cujo enfoque central são os conceitos <strong>de</strong><br />

hibridismo e <strong>de</strong> alterida<strong>de</strong>, que obrigam a repensar a história literária, nos últimos vinte anos.<br />

Com a organização das mulheres e dos grupos chamados minoritários, negros, homossexuais e<br />

<strong>de</strong> outras minorias marginalizadas, o enfoque falocrata, branco e cristão, predominante até o século<br />

XX, é obrigado a ce<strong>de</strong>r lugar às outras vozes até então discriminadas. Não se po<strong>de</strong> mais, por<br />

exemplo, estudar a historiografia literária, sem analisar a participação das mulheres no Romantismo,<br />

e Nísia Floresta jamais po<strong>de</strong>rá ser esquecida na luta pela liberação feminina no Brasil; na<br />

campanha abolicionista, se impõem os nomes <strong>de</strong> Maria Firmina no Maranhão e Narcisa Amália,<br />

no Rio <strong>de</strong> Janeiro; na luta pelo sufragismo, na 1a meta<strong>de</strong> do século XX e na literatura homoerótica,<br />

nos últimos 20 anos. Em Dialética da colonização, Alfredo Bosi é taxativo: “Po<strong>de</strong>-se passar<br />

da raça para a nação, e da nação para a classe social (cultura do rico, cultura do pobre, cultura<br />

burguesa, cultura operária), mas <strong>de</strong> qualquer modo, o reconhecimento do plural é essencial”.<br />

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