Academia Espírito-santense de Letras - Instituto Sincades
Academia Espírito-santense de Letras - Instituto Sincades
Academia Espírito-santense de Letras - Instituto Sincades
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Jô DRuMOND<br />
CADEIRA 32<br />
| 40<br />
O Prazer da leitura<br />
há quem culpe a Internet pela evasão dos leitores, mas é provável que hoje se<br />
leia mais, mesmo que seja em “internetês”, do que antes da era virtual, pois<br />
a língua escrita é largamente usada na web. Na Europa, é usual que cada<br />
cidadão tenha sempre em mãos um livro, uma revista, um jornal ou algo<br />
similar, nas mais diversas circunstâncias do cotidiano, seja em transportes<br />
coletivos, salas <strong>de</strong> espera, cafeterias ou praças públicas. Cada um carrega<br />
consigo algo escrito para momentos ociosos.<br />
Recentemente, cenas inusitadas, envolvendo leitores estrangeiros,<br />
atraíram minha atenção. No <strong>de</strong>sembarque, em Munique, o operador da ponte<br />
móvel abriu um livro e pôs-se a ler, atentamente, <strong>de</strong> pé, após o término <strong>de</strong><br />
sua tarefa, indiferente ao fluxo dos passageiros. Era como se o entorno não<br />
existisse para ele. Uma cena usual como essa, para os europeus, é motivo <strong>de</strong><br />
estranhamento para nós, brasileiros, pelo fato <strong>de</strong> não estarmos habituados<br />
a ver livros em mãos operárias, sobretudo em horário <strong>de</strong> trabalho.<br />
De outra feita, também em Munique, à porta <strong>de</strong> uma sala <strong>de</strong> concertos,<br />
via-se na fila um garoto, <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> <strong>de</strong>z anos, mergulhado na leitura<br />
<strong>de</strong> um livro, alheio a tudo e a todos. O fato era duplamente surpreen<strong>de</strong>nte.<br />
Aqui no Brasil, normalmente não se veem crianças em concertos <strong>de</strong> música<br />
erudita. Quando isso acontece, geralmente não estão ali por vonta<strong>de</strong><br />
própria, mas por ingerência familiar. Naquela fila, havia diversas crianças,<br />
todas elas aparentemente <strong>de</strong> bom grado.<br />
Em Paris, presenciei uma cena curiosa, ao flanar sob os arcos da rua<br />
Rivoli, ao lado do museu do Louvre. Um mendigo, <strong>de</strong>itado placidamente no<br />
passeio público, indiferente aos passantes, parecia usufruir da leitura <strong>de</strong><br />
um bom livro. Seu boné fora colocado displicentemente ao lado, para eventuais<br />
óbolos. Todavia, as misérias da vida não lhe diziam respeito. Absorto<br />
no tempo e no espaço parecia não se dar conta do constante tilintar <strong>de</strong>