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Academia Espírito-santense de Letras - Instituto Sincades

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ÍTALO FRANCISCO CAMPOS<br />

CADEIRA 31<br />

| 34<br />

A Revanche<br />

Parece que foi ontem... <strong>de</strong> tão fresquinho e insistente que continuava na sua<br />

memória. Começou <strong>de</strong> forma discreta, hora ou outra, em especial na hora<br />

<strong>de</strong> dormir. Nesta calma noite, as vozes que ouvia, gritavam. Mas faz muitos<br />

anos, algumas <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> anos, que essas vozes e imagens se multiplicaram<br />

na sua cabeça, insistentes e incessantes.<br />

Depois vi um monstro que subia do mar. Ele tinha <strong>de</strong>z chifres e sete cabeças,<br />

uma coroa em cada um dos chifres e nomes, que eram blasfêmias, escritos nas cabeças.<br />

O monstro que vi parecia um leopardo, os seus pés eram como <strong>de</strong> um urso, e a<br />

sua boca era como a <strong>de</strong> um leão.<br />

Convivia com as vozes com sofreguidão e algum sofrimento. Começaram<br />

com pequenas frases, frases curtas e, um tempo <strong>de</strong>pois, já formavam<br />

uma pequena história: Num país muito distante, lá nos confins dos mares, havia<br />

outrora um rei que tinha um filho e uma filha extremamente formosos. Chamavam<br />

a ele Hil<strong>de</strong>brando o audaz e a ela Rosamunda a loura, porque seus cabelos eram louros.<br />

Era difícil i<strong>de</strong>ntificar, com muita clareza, porque se misturavam, eram<br />

vozes agudas, graves, balbuciantes, grossas, <strong>de</strong>safinadas, insinuantes. Vozes<br />

que não calavam. Certa feita uns personagens chamavam por outros,<br />

provavelmente por apelidos, em uma gritaria sem fim: Narizinho, Senhora<br />

Santana, Pedrinho, <strong>de</strong>mônio... Ao mesmo tempo que aconteciam estranhas sonoplastias<br />

<strong>de</strong> canto <strong>de</strong> animais, pássaros, roncos não conhecidos. Tudo isso<br />

foi mudando gradativamente.<br />

Na adolescência, as vozes se apresentavam em longos discursos,<br />

frases filosóficas, palavras-<strong>de</strong>-or<strong>de</strong>m ou longas divagações. Não afogarão a<br />

verda<strong>de</strong> num mar <strong>de</strong> sangue...Levanta-te, povo trabalhador! A pé, gente com fome<br />

e dor! Cresceu assim atormentado por multivozes entrelaçadas, suplicantes<br />

<strong>de</strong> atenção e cuidados, que se impunham e reverberavam no seu pequeno<br />

quarto da república <strong>de</strong> rapazes. Na velha Naishápúr, na Nínive remota,/ Seja

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