Academia Espírito-santense de Letras - Instituto Sincades
Academia Espírito-santense de Letras - Instituto Sincades
Academia Espírito-santense de Letras - Instituto Sincades
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
REVISTA DA ACADEMIA ESPÍRITO-SANTENSE DE LETRAS | 2012<br />
Este patrimonio constituido con leyendas, historias, mitos, imágenes,<br />
pinturas, películas que hablan <strong>de</strong> la ciudad, ha formado un imaginario<br />
múltiple, que no todos compartimos <strong>de</strong>l mismo modo, Del que seleccionamos<br />
fragmentos <strong>de</strong> relatos, y los combinamos en nuestro grupo, en<br />
nuestra propia persona, para armar una visión que nos <strong>de</strong>je poco más<br />
tranquilos y ubicados en la ciudad (CANCLINI, 2007, p. 93).<br />
Uniformizar a cida<strong>de</strong> é <strong>de</strong>sarticular o po<strong>de</strong>r da própria intertextualida<strong>de</strong> nesse espaço.<br />
O mesmo prejuízo provoca qualquer olhar que não se entenda parcial. Isso porque a cida<strong>de</strong> faz<br />
coexistir diferentes linguagens, tempos e experiências, sendo ela própria um somatório caótico<br />
<strong>de</strong> referências, à maneira <strong>de</strong> um vi<strong>de</strong>oclip. 4 Em “Um olhar”, Mazzini tem forte a sensação <strong>de</strong> contradições<br />
referenciais da urbe ao ver sua nonna do distrito <strong>de</strong> Araguaia em plena Vitória <strong>de</strong> final<br />
dos anos quarenta. Diz ele: “Tomei um susto. Era muito difícil imaginar aquela velhinha andando<br />
pelas ruas da cida<strong>de</strong>” (BORGO, 1995, p. 65). Da parte <strong>de</strong> sua avó, o susto era o mesmo: “Confessoume<br />
que estava realmente apavorada com tudo o que via na cida<strong>de</strong>. Nunca podia imaginar que a<br />
cida<strong>de</strong> fosse tão gran<strong>de</strong> e com tanta confusão” (BORGO, 1995, p. 65). O estranhamento confirma<br />
a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> Canclini sobre a cida<strong>de</strong> como lugar para cada sujeito viver e principalmente imaginar.<br />
Quando penso diretamente nas crônicas <strong>de</strong> Roberto Mazzini, esse imaginário urbano<br />
traduz-se em narrativas acumuladas que aguardam por passagens para se manifestar. O papel<br />
<strong>de</strong> cada fragmento colhido em ruas, livrarias, hotéis é ser esse duto comunicante, ponte da memorabilia<br />
do narrador até a (in)formação narrativa.<br />
O leitor <strong>de</strong> Roberto Mazzini precisa ter consciência das associações imagéticas. Precisa<br />
<strong>de</strong>sconfiar do significado literal <strong>de</strong> cada expressão apresentada, ficando longe <strong>de</strong> encarar a<br />
narração como gratuita. Uma ironia refinada promove a diatribe que tanto quer o autor em<br />
relação aos seus leitores. Muito se per<strong>de</strong>, caso referências a músicas, filmes, obras literárias<br />
e acontecimentos históricos não sejam percebidas. É preciso sempre lembrar que se trata <strong>de</strong><br />
“cida<strong>de</strong>s visíveis” os locais que Mazzini <strong>de</strong>dica-se a tecer. E sua visibilida<strong>de</strong> é intenso jogo <strong>de</strong><br />
reconhecimento <strong>de</strong> falas, <strong>de</strong> lendas, <strong>de</strong> narrativas anteriores, enfim, <strong>de</strong> linguagem em potencial<br />
intenso <strong>de</strong> comunicação.<br />
Referências<br />
ABREU, Caio Fernando. O ovo apunhalado. Porto Alegre: L&PM, 2001.<br />
ANDRADE, Mário <strong>de</strong>. Poesias Completas (Edição crítica <strong>de</strong> Diléa Zanotto Manfio). Belo Horizonte/<br />
São Paulo. Itatiaia/EDUSP, 1987.<br />
BENJAMIN, Walter. Charles Bau<strong>de</strong>laire: Um lírico no auge do capitalismo. Tradução José Carlos<br />
Martins Barbosa; Hemerson Alves Baptista. 3. Ed. São Paulo: Brasiliense, 1994, v. 3. (Obras<br />
Escolhidas)<br />
55 |