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nos nas questões metodológicas que nos orientaram durante a coleta dos materiais, tanto publicitários quanto de cunho acadêmico, presentes nos sites analisados e que compõe o campo empírico desta pesquisa. Destacamos os objetivos e as principais questões que nos nortearam e auxiliaram na compreensão deste campo complexo por apresentar-se ao mesmo tempo como técnico e simbólico. O quarto capítulo introduzirá as questões referentes ao nosso trabalho de campo. Nele, Apresentamos e analisamos o material coletado durante a pesquisa nos sites das clínicas de reprodução humana, atentando para nossos objetivos iniciais e estabelecendo as conexões e reflexões que o campo nos suscita. Finalmente, Nas considerações finais oferecemos algumas conclusões sobre o trabalho realizado com intuito de elucidar algumas dinâmicas imbricadas na área da reprodução humana em laboratório e que muitas vezes carecem de discussões e de visibilidade. 10
1 ESTABELECENDO CONEXÕES 1.1 Maternidade e NTRc: um diálogo imprescindível. Se a mulher tem sido tomada ao longo dos últimos três séculos como sujeito da reprodução, o surgimento das novas tecnologias reprodutivas conceptivas (NTRc) parece estar, nos últimos 30 anos, causando reviravoltas nas concepções e valores sobre maternidade, paternidade e parentesco, que integram o universo simbólico no qual nos encontramos inseridos. Com efeito, parece-nos essencial explicitar boa parte do debate que se formou, principalmente após os anos 1960, em torno das questões relativas ao corpo feminino e a reprodução. O campo reprodutivo articula-se como o local de inserção privilegiado do feminino, visto que ser mãe parece justificar a existência de toda mulher (MUNIZ, 2007) sendo sua capacidade reprodutiva tomada como definidora de sua identidade, significando o sujeito feminino. Tal quadro simbólico apresenta-se como um dos desafios do feminismo contemporâneo que elabora uma crítica à insistência em tomar a função biológica da mulher enquanto definidora de seu ser. Desnaturalizar tais definições é tarefa complexa já que se faz necessária uma revisão do conceito de maternidade que gira ao redor do sexo biológico e nutre a conexão mulher/mãe. A filósofa Simone de Beauvoir, em seu livro O Segundo Sexo, publicado em 1949, é a primeira teórica a questionar as noções de feminilidade e a naturalização de comportamentos ancorados no corpo, apimentando o debate com sua célebre frase “não se nasce mulher, mas torna-se mulher” (BEAUVOIR, 1949, p195; apud SAVONE, 2001, p.138). Seu trabalho muito contribuiu para elucidar e politizar questões de ordem privada como a maternidade que passa a ser problematizada e, por conseguinte, passa a ser percebida como construção social e causa principal da dominação masculina. A partir dos anos 1960 e 1970 a questão da subordinação das mulheres ganha terreno. Inúmeros debates emergiram sobre a posição da mulher nas sociedades patriarcais. Por patriarcado não entendemos apenas uma forma de família embasada no parentesco masculino e no poder paterno, mas toda a estrutura social edificada no poder do pai. Este sistema se define pelo intercâmbio de mulheres no qual pais trocam filhas por noras, ou os irmãos trocam suas irmãs por esposas, com ou sem o consentimento delas, como nos mostra Lévi- Strauss (apud TUBERT, 1996). A essência deste sistema está no controle estrito da sexualidade feminina, vale dizer, dos seus corpos. 11
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