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arranjos sociais. Os termos do debate sobre natureza e cultura se redefinem não apenas nos
humanos, mas na fabricação da vida, através de técnicas avançadas (RAMIREZ, 2006).
A ciência ao apropriar-se do conhecimento sobre a natureza designa para si a
autoridade de enunciar as verdades sobre a vida dos seres humanos. Nesta perspectiva a
ciência coloca a natureza como imóvel e estável, reduto do qual se pode emergir as bases
reguladoras das ações humanas, a vida social é dominada por leis inumanas e por isso
objetivas. Entretanto, os estudos apresentados neste capítulo desconstroem a percepção da
natureza enquanto elemento imutável no qual é presumível que se encontre as explicações e
embasamentos para os modelos simbólicos da vida social. Averiguamos que a ciência opera
como construtora de concepções que não tem a natureza objetiva como fonte, mas que
arquitetam as próprias definições do que seja natural, nesta lógica, inferimos que as premissas
científicas estão decisivamente associadas às compreensões daqueles que se colocam a
produzi-la. Alegamos que no caso das NTRc as premissas que regem as atuações científicas
são as relacionadas aos entendimentos habituais da reprodução enquanto tarefa feminina, fato
estabelecido socialmente e não dado pela natureza imutável do corpo feminino. O discurso
médico/científico configura a legitimidade de um circuito de práticas sociais que são por ele
naturalizadas.
Neste sentido, desejamos traçar uma análise do campo das NTRc procurando instituir
uma conexão entre a ideologia da maternidade obrigatória, que se encontra repleta de
estereótipos de gênero e as práticas e discursos científicos que se pretendem neutros, mas que
acirram os estereótipos ao definirem sua intervenção como certa, benéfica e indispensável
para a constituição de um casal, em especial de uma mulher normal.
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