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fazer download - Núcleo estudos de gênero - Universidade Federal ...

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As atenções se dirigem aos mistérios da mulher, que passa a ser objeto <strong>de</strong> uma vasta<br />

investigação, o que revela as preocupações <strong>de</strong> médicos e cientistas com a especificida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

seu corpo biologicamente <strong>de</strong>finido como inferior. Essas investigações influenciaram discursos<br />

que <strong>de</strong>limitaram os papeis e lugares sociais inferiores ocupados pelas mulheres.<br />

Já no século XIX a socieda<strong>de</strong> burguesa em constante ascensão buscou nestas falas<br />

científicas a chave da sua organização. Deste modo, a ciência torna-se um pilar da<br />

inferiorização da mulher não somente nos domínios biológicos, mas políticos e morais.<br />

A curiosida<strong>de</strong> com relação ao corpo feminino não cessa. A ânsia por enten<strong>de</strong>r e<br />

explicar a mulher acentua-se ainda mais com a perceptível transformação do parto em assunto<br />

médico. O parto, habitualmente percebido como relativo às ações corriqueiras das mulheres,<br />

envolvia somente a ajuda das parteiras. No entanto, a figura do médico começa a ganhar<br />

relevância e se percebe uma intensificação dos processos <strong>de</strong> profissionalização e legitimação<br />

dos seus saberes, que se voltam também ao corpo feminino. Surgem os primeiros obstetras,<br />

<strong>de</strong>finidos por possuírem um conjunto <strong>de</strong> conhecimentos referidos a reprodução humana. O<br />

saber científico finalmente ganha espaço neste terreno cercado <strong>de</strong> mistérios e místicas que é o<br />

corpo feminino, como nos indica Marins.<br />

Ainda no século XIX, através da aproximação médica não somente dos partos, mas<br />

igualmente <strong>de</strong> outros assuntos relativos à mulher, surge a ginecologia, <strong>de</strong>finida como a ciência<br />

da mulher. Esta nova área médica constitui-se como autorida<strong>de</strong> para enunciar a verda<strong>de</strong> sobre<br />

seu objeto: a mulher.<br />

A nova ciência reabilita um órgão exclusivamente feminino, o útero, ressaltando<br />

categoricamente a singularida<strong>de</strong> corpórea dos indivíduos femininos. Constatará, com<br />

autorida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um saber científico, que a natureza da mulher <strong>de</strong>fine-se por seu corpo e sua<br />

condição apresenta-se submissa ao império <strong>de</strong> seus órgãos sexuais. Não isenta <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ologia, a<br />

ginecologia reforçará imperativos sobre o papel social da mulher. Unirá corpo e moral,<br />

organizados com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>fazer</strong> os indivíduos femininos cumprirem com o <strong>de</strong>sígnio <strong>de</strong><br />

sua natureza, a saber, a maternida<strong>de</strong> e os cuidados relativos ao âmbito doméstico.<br />

De acordo com Martins, o saber médico confere às mulheres uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> comum e<br />

faz do seu corpo um lugar privilegiado <strong>de</strong> on<strong>de</strong> emana a mais profunda essência feminina.<br />

Esse saber toma formas <strong>de</strong> controle e molda estes corpos às normas. Interessante ressaltar<br />

como esses discursos reorganizam as relações <strong>de</strong> <strong>gênero</strong> ao negarem a sexualida<strong>de</strong> feminina,<br />

voltando a mulher exclusivamente à reprodução.<br />

As representações sobre os corpos femininos revelam um elemento essencial neste<br />

<strong>de</strong>bate, o caráter <strong>de</strong> construção cultural e histórica dos próprios corpos. Parece-nos nítido que<br />

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