fazer download - Núcleo estudos de gênero - Universidade Federal ...
fazer download - Núcleo estudos de gênero - Universidade Federal ...
fazer download - Núcleo estudos de gênero - Universidade Federal ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
sobre a qual os atores (cientistas) elucubram como se constituísse uma entida<strong>de</strong> objetiva.<br />
Efetua-se que, ao reencontrar o caminho perdido que transforma fatos em verda<strong>de</strong>s dadas, a<br />
noção <strong>de</strong> objetivida<strong>de</strong>, tão cara ao pensamento científico, é interrogada. Verifica-se que a<br />
verda<strong>de</strong> não se encontra pronta no mundo, apenas a espera <strong>de</strong> ser <strong>de</strong>scoberta, mas ao<br />
contrário, é forjada no seio da própria socieda<strong>de</strong>, po<strong>de</strong>ndo-se concluir que o saber não é,<br />
portanto, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do seu modo <strong>de</strong> construção.<br />
Resta, por conseguinte, saber como um fato científico se constitui como verda<strong>de</strong><br />
objetiva, ganhando o emblema <strong>de</strong> a-histórico e a-temporal. Segundo os autores, objetos e<br />
fatos são edificados através do talento criativo dos homens da ciência. Todavia, singular<br />
processo <strong>de</strong> construção é esquecido, resultando que um fato científico torna-se tal, quando<br />
per<strong>de</strong> seus atributos temporais e sociais. Dessa forma, o fato pronto integra-se a um vasto<br />
conjunto <strong>de</strong> conhecimentos erigidos por outros fatos, negando o longo caminho percorrido<br />
pelos pesquisadores. Na tentativa <strong>de</strong> resgatar o caráter social da ciência, é indispensável<br />
retomar este caminho, o processo <strong>de</strong> construção que se apaga quando se transforma o fato em<br />
realida<strong>de</strong>.<br />
Destacamos aqui o valor <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar o lugar, a motivação e o procedimento que<br />
contribui para um fato ser estabelecido. É igualmente importante ressaltar a gama <strong>de</strong><br />
interesses e preocupações que movem os membros <strong>de</strong> um laboratório, que em conversas<br />
po<strong>de</strong>m criar, <strong>de</strong>scriar, reforçar e modificar as suas convicções, revelando a existência <strong>de</strong> uma<br />
re<strong>de</strong> complexa <strong>de</strong> avaliações, presente em qualquer <strong>de</strong>dução ou <strong>de</strong>cisão. Torna-se claro que<br />
diversos interesses po<strong>de</strong>m estar simultaneamente presentes em uma única afirmação. Essas<br />
conversas e re<strong>de</strong>s <strong>de</strong>svendam os conteúdos e interesses dos pesquisadores, nos mostrando sua<br />
maneira <strong>de</strong> pensar e seus valores. Logo, se todo discurso resulta da integração <strong>de</strong> inúmeras<br />
avaliações, é socialmente construído. Portanto, conclui-se que o estabelecimento <strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>ia<br />
ou <strong>de</strong> um fato é resultante da simplificação <strong>de</strong> toda uma série <strong>de</strong> condições materiais e<br />
coletivas e, <strong>de</strong>sta forma, a ciência mostra-se <strong>de</strong>finitivamente articulada com a socieda<strong>de</strong>.<br />
Em outro texto, Políticas da Natureza, Bruno Latour (2004) apresenta os problemas e<br />
embaraços <strong>de</strong> pensarmos um mundo dominado pela concepção da natureza enquanto imutável<br />
e indiscutível. A <strong>de</strong>finição que polariza natureza e cultura é representada por Latour, neste<br />
livro, através da alegoria da caverna, <strong>de</strong> Platão, a qual <strong>de</strong>screve a existência <strong>de</strong> um mundo<br />
<strong>de</strong>smembrado em duas câmaras. A primeira, escura e recanto da ignorância, representa o<br />
mundo social. A segunda, concebida como objetiva e posto do conhecimento, caracteriza o<br />
mundo não humano, a natureza. Estes dois mundos se encontram unidos por uma acanhada<br />
passagem por meio da qual apenas sábios e homens da ciência po<strong>de</strong>m passar. Acessando o<br />
22