fazer download - Núcleo estudos de gênero - Universidade Federal ...
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O apelo ao domínio da natureza configura boa parte das imagens coletadas dos sites e<br />
por nós analisadas, que representam exaustivamente as técnicas e procedimentos realizados<br />
nos laboratórios com a intenção <strong>de</strong> assegurar aos paciente/clientes das clínicas que o<br />
procedimento é seguro, e exitoso.<br />
As imagens compiladas e analisadas ainda no capítulo quatro, juntamente com os<br />
discursos publicitários, marcam um retorno da mulher e da família ao processo reprodutivo,<br />
ambos ganham <strong>de</strong>staque quando o assunto é atrair pacientes/clientes para as clínicas. Desta<br />
forma, verificamos nas imagens um enfoque distinto daquele presente nos artigos <strong>de</strong> cunho<br />
acadêmico, que <strong>de</strong>talham e especificam as técnicas sem <strong>fazer</strong>em menção aos sujeitos<br />
<strong>de</strong>stinatários <strong>de</strong> tais investidas científicas. Em contrapartida, as imagens e publicida<strong>de</strong>s se<br />
apegam aos valores culturais referentes à reprodução. Desta forma, a família ganha <strong>de</strong>staque e<br />
a felicida<strong>de</strong> é associada ao nascimento do bebê. Diferentes imagens <strong>de</strong> células e gametas<br />
reforçam o caráter natural da reprodução e instauram as bases da legitimação da intervenção<br />
tecnológica em um processo que antes dizia respeito apenas a intimida<strong>de</strong> do casal.<br />
Ressaltamos que as publicida<strong>de</strong>s, ao ressaltarem os valores imbricados na reprodução<br />
e ao <strong>de</strong>finirem tais valores como bases nas quais assentam suas práticas, acarretam a<br />
imposição <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los estabelecidos <strong>de</strong> família heterossexual e <strong>de</strong> mulheres que não po<strong>de</strong>m<br />
ser completas na ausência <strong>de</strong> filhos. Logo, percebemos que a estigmatização e a fixi<strong>de</strong>z <strong>de</strong><br />
i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> feminina se reafirmam e os caminhos para a <strong>de</strong>sconstrução das concepções que<br />
acirram as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s e as hierarquias <strong>de</strong> <strong>gênero</strong> precisam ser restabelecidos para que seja<br />
possível abranger estas novas tecnologias que fragmentam os corpos e que pouco alar<strong>de</strong><br />
fazem a respeito dos riscos envoltos em suas ações.<br />
Neste sentido, a perspectiva analítica <strong>de</strong> <strong>gênero</strong> nos possibilita compreen<strong>de</strong>r as<br />
nuances <strong>de</strong>ste campo complexo que através da ciência recoloca os velhos <strong>de</strong>bates e<br />
hierarquias, envolvendo-os em uma aura <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>s. De tal modo, se torna necessário<br />
a<strong>de</strong>ntrar a fundo o universo das técnicas e da ciência para estabelecer uma crítica às práticas<br />
que aparentemente apenas promovem o bem estar dos casais, mas que em seu seio guardam<br />
inúmeras questões que ainda necessitam ser esclarecidas, evi<strong>de</strong>nciadas e <strong>de</strong>batidas e que, ao<br />
escaparem à problematização, continuam a inferir e acentuar os processos <strong>de</strong> dominação<br />
masculina, a estigmatização das mulheres solteiras e/ou sem filhos e a objetivação da vida<br />
humana.<br />
Outras questões também se colocam ao observarmos o mundo online das clínicas <strong>de</strong><br />
RA, que não apenas impõem os mo<strong>de</strong>los dominantes <strong>de</strong> família, <strong>de</strong> maternida<strong>de</strong> e <strong>de</strong><br />
felicida<strong>de</strong>, mas parecem, igualmente, <strong>fazer</strong> uma verda<strong>de</strong>ira <strong>de</strong>fesa dos mo<strong>de</strong>los estéticos <strong>de</strong><br />
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