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suscitar os fantasmas da confusão dos sexos, já as NTRc parecem restaurar a distinção, pois<br />

evitam, i<strong>de</strong>almente ao menos, que uma mulher não se encaixe na categoria mãe. (TUBERT,<br />

1996).<br />

Lucila Scavone (2006) nos informa que as novas tecnologias reprodutivas, mesmo que<br />

legitimadas pelo viés científico trazem à tona uma série <strong>de</strong> problemas éticos, políticos e<br />

sociais. Exemplares são os casos em que médicos são confrontados com <strong>de</strong>sejos <strong>de</strong><br />

maternida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mulheres solteiras ou <strong>de</strong> casais homossexuais e os <strong>de</strong>finem como <strong>de</strong>sejos<br />

<strong>de</strong>sviantes, por colocarem-se fora do padrão culturalmente estabelecido <strong>de</strong> parentesco e<br />

filiação, ou que se aproveitam <strong>de</strong> sua condição <strong>de</strong> fragilida<strong>de</strong> emocional para acordos<br />

econômicos e morais ilícitos. No aspecto da possibilida<strong>de</strong> gerada pela tecnologia para a<br />

gestação em mulheres solteiras, po<strong>de</strong>mos lembrar o interessante trabalho <strong>de</strong> Marilyn Strathern<br />

(1995) que analisa a polêmica que se instaurou na mídia da Grã Bretanha no ano <strong>de</strong> 1991,<br />

quando algumas mulheres solteiras e virgens procuraram clínicas <strong>de</strong> RA com intuito <strong>de</strong><br />

tornarem-se mães. A situação causou alar<strong>de</strong> entre os especialistas e culminou em um <strong>de</strong>bate<br />

aberto na mídia, on<strong>de</strong> todos questionavam a valida<strong>de</strong> do <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong>stas mulheres. Para<br />

Strathern o que ocasionou toda essa atenção da socieda<strong>de</strong> ao caso da “síndrome do<br />

nascimento virgem” foi a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se embaralharem as noções <strong>de</strong> parentalida<strong>de</strong>, que<br />

no mo<strong>de</strong>lo tradicional euroamericano não encontra cisão entre sexo e procriação. Mas não é<br />

preceito que as NTRc <strong>de</strong>svinculam sexo e reprodução? Sim, no entanto, esta separação ocorre<br />

apenas momentaneamente, visto que a prática se insere prioritariamente sobre um casal<br />

envolto em uma aura sexual característica da conjugalida<strong>de</strong>.<br />

Torna-se claro que a separação ou não entre sexo e reprodução não é o cerne do<br />

problema, já que o que é consi<strong>de</strong>rado natural po<strong>de</strong> ser e é manipulado, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que <strong>de</strong> acordo<br />

com os princípios sociais. O que se instaura é o não encaixe <strong>de</strong>stas mulheres-solteiras e<br />

virgens - no mo<strong>de</strong>lo corrente <strong>de</strong> exercício da sexualida<strong>de</strong>. Assim, suas vonta<strong>de</strong>s opõem-se ao<br />

que é simbolicamente compreensível no que se refere a parentesco e reprodução, causando<br />

espanto geral. Percebemos que relações <strong>de</strong> <strong>gênero</strong> e reprodução não se separam nas NTRc,<br />

nem mesmo momentaneamente.<br />

Se as NTRc abrem uma gama <strong>de</strong> novas possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> arranjos sociais, parece que<br />

os discursos que as envolvem tratam rapidamente <strong>de</strong> negá-las. A maternida<strong>de</strong> continua sendo<br />

abençoada e sacralizada no interior do casamento heterossexual e a insistência sobre o<br />

biológico como forma <strong>de</strong> legitimação das relações com a tecnologia não permite a ampliação<br />

das concepções sobre família, parentesco e filiação (TAMANINI, 2006). Este aspecto fica<br />

bastante evi<strong>de</strong>nte nas imagens coletadas dos sites e analisadas no capítulo quatro <strong>de</strong>sta<br />

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