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A mais expressiva chave conta com 195 imagens de técnicas envolvidas em RA. Dividimos estas imagens em duas categorias: as imagens de especialistas envolvidos em algum procedimento técnico (figura 1) e as imagens que somente contemplam os aparelhos e os procedimentos técnicos (figura 2). Dentre as 195 imagens, 105 dizem respeito aos especialistas dominando algum aparelho ou procedimento e 90 imagens são apenas de aparelhos técnicos. Figura 1: Especialista durante procedimento de ICSI. Figura 2: Tambor de nitrogênio contendo as palhetas com os embriões congelados. Esta ênfase na tecnologia, que do mesmo modo se verifica nos conteúdos dos artigos, parece demonstrar a especialização e a capacitação das clínicas para atender com maior sucesso aos infortúnios da natureza, revelando que praticamente não há problemas que os modernos equipamentos e técnicas não possam resolver. Os esforços das propagandas verificadas nos websites refletem os esforços pela captação de uma fatia do mercado. 56
Apresentam, por exemplo, imagens de belos bebês e casais felizes ao invés de mostrar procedimentos médicos invasivos. Deparamo-nos com o discurso sobre a necessidade de se assistir a natureza, de ajudar e de reparar as suas possíveis falhas. Este argumento legitima a naturalização da intervenção médica nos processos reprodutivos que antes diziam respeito ao foro privado do casal. As tecnologias expostas e valorizadas permitem superar e expandir os limites de uma natureza que teria ficado pequena para dar conta do mundo contemporâneo. A natureza não mais responde a necessidade de maternidade tardia das mulheres modernas. (RAMIREZ, 2006). Ainda podemos argumentar que a transferência da reprodução da alcova para ao laboratório, nesse processo reprodutivo, acarreta a perda de centralidade da mulher que é apropriada pela tecnologia. Como afirma Martha Ramirez (2006), o aprimoramento de sofisticadas técnicas de intervenção e diagnóstico afirmam e lembram as mulheres que estão à disposição para ajudá- las a cumprir seu destino soberano. Aferimos ainda que o surgimento de novas técnicas supre necessidades, mas impõem novas necessidades, que acarretam novas técnicas instaurando um ciclo que pode se tornar vicioso fazendo com que pode nos levar a uma crescente objetivação da reprodução humana (ROTANIA, 2006). Com 108 imagens encontramos as referências às células. Representadas na grande maioria das vezes, em 80 figuras, soltas ou em interação, 28 imagens. O alto número de imagens de células e gametas destacados dos corpos parece se colar aos discursos médicos/científicos que fragmentam os corpos, que os tratam como um conjunto de peças fragmentadas, possíveis de serem desmembradas. O campo reprodutivo é resignificado por meio das técnicas que desvinculam sexualidade e reprodução. O caráter afetivo, emocional, social, econômico e político desaparecem a reprodução torna-se apenas uma questão de gametas em interação. Assim, se perdem as discussões sobre as implicações simbólicas deste ato, que é congelado e retirado do seu contexto social. As células reinam absolutas nos laboratórios onde são analisadas e onde parecem não impor pergunta alguma sobre seu destino, sua função ou sobre as implicações de sua manipulação. Parecem somente representar os milagres da ciência, capaz de controlar e de fazer a vida. Neste sentido, as imagens de células e gametas são sempre enfáticas quanto as suas possibilidades de gerar a vida. Vemos o resgate da necessidade de afirmar que o processo de intervenção técnica é natural. É o biológico associado ao natural que marca a legitimação da expansão das clínicas de RA. No entanto, essa ênfase dada ao biológico apresenta-se como uma falsa realidade já 57
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