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Outro ponto relevante sobre as possíveis implicações das NTRc é o desaparecimento
da dimensão subjetiva do sofrimento, do desejo e do prazer que dão lugar a dimensão objetiva
do saber, do controle do corpo e da natureza. O médico é transformado em um fazedor de
milagres, capaz de normalizar o casal estéril que medicaliza-se sem, contudo, receber de
maneira própria informações sobre os riscos que tais intervenções imputam a seus corpos.
A profunda especialização e profissionalização das áreas, que outorgam aos
especialistas a autoridade neutra sobre seus objetos parece legitimar e dar credibilidade ao
saber médico-científico. Torna-se compreensível a entrada de diferentes especialidades no
campo da reprodução humana, como é o caso da veterinária, da biologia molecular, entre
tantas outras. O discurso sobre as práticas torna-se profundamente técnico e especializado, e a
ciência da reprodução adquire o comando das células, dos gametas, dos embriões, detalhados
e pesquisados por verdadeiros peritos que dominam a natureza, entendida como estanque e
imóvel frente aos avanços modernos. Alias, é este apelo a natureza que corrobora a
legitimidade da técnica e da intervenção severa sobre os corpos. A natureza torna-se metáfora
da técnica e a técnica é transformada em natureza. Essa é a grande chave da mudança do
significado cultural acerca da reprodução (RAMIREZ, 2006).
Com relação aos corpos, nos processos de RA eles sofrem uma profunda
fragmentação, descolam-se células, gametas e embriões que, desumanizados, tornam-se
passíveis de comercialização e doação. Evidencia-se uma crescente mercantilização da
reprodução e do parentesco, que sai da alcova e dirige-se para o consultório do médico, para o
laboratório e, nos dias atuais, para o os sites das clínicas de RA (TAMANINI, 2007). O
comércio da fertilidade funciona de maneira parecida com o comércio da medicina: os
indivíduos que compram os serviços de fertilidade das clínicas, não se consideram como
agentes de uma relação comercial (SPAR, 2007).
Sem tecer críticas de cunho moral, Spar aponta para a realidade atual que perpassa os
tratamentos propiciados pelo mercado da fertilidade: fabricam-se bebês de uma forma
altamente tecnologizada, há um crescente na manipulação de cada vez mais componentes da
sua existência. É necessário, dessa forma, atentar para as implicações sociais desse advento.
No cerne da questão, o discurso médico ainda localiza o desejo por filhos que, como
lembra Tubert (1996), antes de expressar um desejo do sujeito, expressa o chamado do outro,
da família, das pessoas e por vezes, do próprio corpo médico, visto que, estando casada, o
normal para uma mulher é que tenha filhos. A lei moral se transforma em lei científica e, as
NTRc adquirem uma função política na criação e transformação de normas acerca do corpo,
da saúde e do comportamento, sendo assim, a medicina domestica ou tradicionaliza os novos
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