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188<br />

A Dama de Preto<br />

Park Row<br />

1952, 35mm, 83 min, 1.37 : 1<br />

Direção: Samuel Fuller<br />

roteiro: Samuel Fuller<br />

Fotografia: John L. Russell<br />

Montagem: Philip Cahn<br />

Música: Paul Dunlap<br />

Produção: Samuel Fuller<br />

Companhia Produtora: Samuel Fuller Productions<br />

elenco: Gene Evans, Mary Welch, Bela Kovacs, Herbert Heyes,<br />

Tina Pine, George O’Hanlon, J.M. Kerrigan, Forrest Taylor, Don<br />

Orlando, Neyle Morrow, Dick Elliot<br />

Classificação Indicativa: 16 anos<br />

No final do século XIX, um jornalista consegue abrir seu próprio<br />

jornal e logo se transforma num grande sucesso. A herdeira de um<br />

dos maiores jornais da cidade começa uma forte oposição contra ele.<br />

“Único filme que produzi com minha<br />

própria grana”, A Dama de Preto é Samuel<br />

Fuller em seu modo mais confessional, apaixonado,<br />

livre e idealista. Não era um filme<br />

que ele queria fazer, era o filme que ele tinha<br />

que fazer, e assim o filme está inteiramente<br />

impregnado de todos os altos ideais<br />

de Fuller para mitigar através do cinema a<br />

carreira que ele queria ter e não teve (ao menos<br />

não diretamente), a de um editor-chefe.<br />

Aqui Fuller entrega-se ao máximo de<br />

seu lirismo enfático, à poesia feita à base<br />

de pontos de exclamação (nenhum outro<br />

grande diretor teve dois de seus filmes com<br />

títulos exclamativos), à mistura desbragada<br />

entre história do jornalismo, guerra de<br />

ímpetos, canto de louvor e história de amor<br />

frustrado. Mas tudo que o filme tem de malresolvido<br />

– em especial a “dama de preto”,<br />

entre a literalidade de personagem e a simbologia<br />

de um patamar histórico – ele tem<br />

de magistral na linguagem visual e nos arroubos<br />

emotivos.<br />

Não tendo nenhum produtor para podar<br />

suas ideias mais extravagantes, Fuller<br />

faz aqui um dos planos-sequência mais geniais<br />

da história do cinema, ao acompanhar<br />

Phineas Mitchell do bar à rua – onde acontecem<br />

três brigas de socos e pontapés – ao<br />

escritório do jornal adversário, The Star, e<br />

em seguida, às instalações destruídas de seu<br />

próprio jornal, The Globe. Os movimentos<br />

bruscos de câmera, o dinamismo provocado<br />

pelas variações de ângulo e, sobretudo, os<br />

solavancos de uma câmera colada ao corpo<br />

do operador de câmera conseguem traduzir<br />

visualmente uma quase táctil sensação de<br />

ira, injustiça e pura energia cinética, tudo<br />

isso em velocidade atordoante.<br />

A Dama de Preto, pelo caráter factual<br />

do “estive lá” – Fuller foi menino de entregas,<br />

arquivista e repórter policial em Park Row,<br />

embora o filme seja ambientado algumas décadas<br />

antes do pequeno Sammy ter lá posto<br />

o pé – e pelo senso de obrigação inigualado<br />

nos outros filmes em “fazer passar a mensagem”,<br />

ilustra perfeitamente a fórmula de<br />

Serge Daney segundo a qual Fuller é sempre,<br />

e ao mesmo tempo, “um correspondente de<br />

guerra e um educador louco”. A relação desse<br />

filme com a história do jornalismo americano<br />

ajuda a compreender a loucura da pedagogia<br />

fulleriana: o que precisa ser ensinado<br />

é a bravura dos homens, é a obstinação, o<br />

ímpeto pela inovação, pelo desbravamento e<br />

pela verdade intensiva – coisas que, no plano<br />

visual, seus filmes mais que traduzem: suscitam.<br />

O que no plano estilístico significa:<br />

invenção à frente das normas, e em se tratando<br />

do cinema narrativo americano, o conflito<br />

é fascinante. A Dama de Preto termina<br />

como uma matéria de jornal, com “Thirty” ao<br />

invés de “The End”, e, mantendo a metáfora,<br />

é óbvio que o subgênero é o panfleto, com a<br />

implícita tomada de posição, as cores excessivas<br />

e nenhum distanciamento.<br />

Ruy Gardnier<br />

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