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de William A. Wellman, também deixou uma marca profunda. Ao<br />

contrário da maioria dos faroestes daquela época, o filme de Wellman<br />

exibia reações honestas e humanas. Um fazendeiro local é assassinato<br />

e tem seu gado roubado. O vilarejo, com o acréscimo de<br />

alguns andarilhos liderados por Henry Fonda, formam uma milícia<br />

para agarrar o perpetrador. Na ânsia de justiça, eles enforcam homens<br />

inocentes. Ao invés de lágrimas falsas e remorso, os filhos da<br />

puta bebem para tentar esquecer seus horríveis atos.<br />

Meu filme preferido desses anos de formação foi O Delator (The<br />

Informer, 1935), de John Ford. É realmente uma obra-prima. De todos<br />

os diretores maravilhosos que eu conheci em Hollywood antes<br />

da Segunda Guerra Mundial, eu dava atenção especial a John Ford.<br />

John tinha uma visão de cada filme que ele dirigia, e tinha a determinação<br />

de passar essa visão para a tela. John me apoiou bastante<br />

nos primeiros anos, quando eu precisava. Ele tornou-se um amigo e<br />

um mentor. Ford me convidava para seus sets, e quando eu comecei<br />

a dirigir, ele aparecia nos meus. Eu estimava os tempos que passávamos<br />

juntos.<br />

Alguns críticos, procurando um epíteto que pegasse, me chamaram<br />

de “o John Ford judeu”. Era uma coisa ridícula de se dizer,<br />

embora eu entendesse que as pessoas precisassem de pontos de referência.<br />

Mas vamos ser sinceros, perto do monumental Ford, eu seria<br />

sempre um neófito. Para entender o escopo da carreira de John,<br />

é preciso lembrar que ele começou como ator muito antes do cinema<br />

falado, com um pequeno papel em O Nascimento de uma Nação<br />

(The Birth of a Nation, D.W. Griffith), em 1915. Nos quase sessenta<br />

anos seguintes, John Ford dirigiria por volta de 140 filmes. John era<br />

um gigante, tendo feito de tudo em Hollywood. Eu aprendi coisa pra<br />

cacete com Ford, mas uma das lições mais importantes foi a modéstia.<br />

Ford era o mais discreto dos homens. Quando perguntavam o<br />

que fez com que ele chegasse a Hollywood, ele respondia: “o trem”.<br />

Por desejar controle artístico completo, Ford começou a produzir<br />

seus próprios filmes. O desejo de modelar cada aspecto de seus<br />

filmes resultou em algumas de suas melhores obras: Legião Indomável<br />

(She Wore a Yellow Ribbon, 1949), Rio Bravo (Rio Grande,<br />

1950), Depois do Vendaval (The Quiet Man, 1952) e O Homem Que<br />

Matou o Facínora (The Man Who Shot Liberty Valance, 1962). O<br />

modo como ele controlava todo o processo foi sempre uma inspiração<br />

para mim. Eu nunca tentei imitar sua obra nem a de ninguém, a<br />

propósito –, mas ser mencionado no mesmo contexto que o grande<br />

Ford será sempre um profundo elogio. Permaneci próximo dele até<br />

sua morte, em 1973. Para mim, John Ford era tudo que eu amava e<br />

respeitava a respeito de Hollywood.<br />

Dois outros diretores completos, Howard Hawks e Raoul Walsh,<br />

também se tornaram meus amigos. Antes de começar a dirigir,<br />

Hawks, que tinha o apelido de “raposa cinza”, tinha trabalhado como<br />

piloto de avião e automobilista. Como Ford, Hawks queria sua independência,<br />

então ele tornou-se seu próprio produtor na maioria<br />

dos filmes. Eu me impressionava com o estilo de Hawks, especialmente<br />

com a forma com que ele não hesitava em lidar com todos os<br />

gêneros, fossem eles comédias ou filmes de mistério ou faroestes.<br />

Eu adorei Scarface – A Vergonha de uma Nação (Scarface, 1932),<br />

Uma Aventura na Martinica (To Have and Have Not, 1944) e À<br />

Beira do Abismo (The Big Sleep, 1946). Mas Howard e eu tínhamos<br />

personalidades muito diferentes. Ele era um sujeito extrovertido e<br />

sofisticado que adorava festas. Eu era mais primitivo, um solitário<br />

que via os amigos um de cada vez. Uma vez, Hawks me perguntou:<br />

“Você caça?”<br />

Balancei a cabeça.<br />

“Não pesca?”, ele perguntou.<br />

“Não”.<br />

“Bem, que tipo de esporte você pratica?”, indagou Hawks.<br />

“Eu escrevo.”<br />

“Olhe só, Sammy”, explicou Hawks com ares de tio, “nesse meio<br />

de trabalho existe um código social. Você não pode ficar sentado<br />

numa mesa dia e noite datilografando. Você tem que caçar ou pescar<br />

ou jogar baralho ou alguma coisa do tipo. Você precisa ir a festas,<br />

beber com as pessoas, ser visto...”<br />

“Não gosto de toda essa presepada”, eu disse. “Ficar fazendo social<br />

é um saco. Eu gosto de ficar sozinho, inventando personagens e<br />

histórias na minha Royal...”<br />

“Venha caçar comigo”, ele disse. “Você vai gostar.”<br />

“Atirar num pobre infeliz do cacete, Howard, seja uma raposa,<br />

um rinoceronte ou um coelho, é injusto.”<br />

“OK, Sammy, OK”, disse Hawks, entendendo minha sintonia.<br />

“Você é um escritor, não um caçador.”<br />

Não obstante as nossas personalidades profundamente diferentes,<br />

eu era louco por Howard Hawks e pelo modo como ele fazia<br />

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